Por que a 16 está correta?
(UEM,verão 2013)
TEXTO
O Verbo For
João Ubaldo Ribeiro
Vestibular de verdade era no meu tempo. Já
estou chegando, ou já cheguei, à altura da vida em
que tudo de bom era no meu tempo; meu e dos
outros coroas. (...) O vestibular, é claro, jamais
voltará ao que era outrora e talvez até desapareça,
mas julgo necessário falar do antigo às novas
gerações e lembrá-lo às minhas coevas (ao
dicionário outra vez; domingo, dia de exercício).
O vestibular de Direito a que me submeti, na
velha Faculdade de Direito da Bahia, tinha só
quatro matérias: português, latim, francês ou
inglês e sociologia, sendo que esta não constava
dos currículos do curso secundário e a gente tinha
que se virar por fora. Nada de cruzinhas, múltipla
escolha ou matérias que não interessassem
diretamente à carreira. Tudo escrito tão
ruybarbosianamente quanto possível (...).
Havia provas escritas e orais. (...) Tirava-se o
ponto (sorteava-se o assunto) e partia-se para o
martírio, insuperável por qualquer esporte radical
desta juventude de hoje. A oral de latim era
particularmente espetacular, porque se juntava
uma multidão, para assistir à performance do
saudoso mestre de Direito Romano Evandro
Baltazar da Silveira. Franzino, sempre de colete e
olhar vulpino (dicionário, dicionário), o mestre
não perdoava.
(...)
− Ai, minha barriga! − exclamava ele. −
Deus, oh Deus, que fiz eu para ouvir tamanha
asnice? Que pecados cometi, que ofensas Vos
dirigi? Salvai essa alma de alimária. Senhor meu
Pai!
Pode-se imaginar o resto do exame. (...)
Comigo, a coisa foi um pouco melhor, eu
falava um latinzinho e ele me deu seis, nota do
mais alto coturno em seu elenco. (...)
Eu dei show de português e inglês. O de
português até que foi moleza, em certo sentido. O
professor José Lima, de pé e tomando um
cafezinho, me dirigiu as seguintes palavras aladas:
− Dou-lhe dez, se o senhor me disser qual é o
sujeito da primeira oração do Hino Nacional!
− As margens plácidas − respondi
instantaneamente e o mestre quase deixa cair a
xícara.
− Por que não é indeterminado, “ouviram,
etc.”?
− Porque o “as” de “as margens plácidas” não
é craseado. Quem ouviu foram as margens
plácidas. É uma anástrofe, entre as muitas que
existem no hino. “Nem teme quem te adora a
própria morte”: sujeito: “quem te adora”. Se
pusermos na ordem direta...
− Chega! − berrou ele. − Dez! Vá para a
glória! A Bahia será sempre a Bahia!
Quis o irônico destino, uns anos mais tarde,
que eu fosse professor da Escola de
Administração da Universidade Federal da Bahia
e me designassem para a banca de português,
com prova oral e tudo. (...) Uma bela vez, chegou
um sem o menor sinal de nervosismo, muito
elegante, paletó, gravata e abotoaduras vistosas.
(...) Esse mal sabia ler, mas não perdia a pose.
Não acertou a responder nada. Então, eu, carrasco
fictício, peguei no texto uma frase em que a
palavra “for” tanto podia ser do verbo “ser”
quanto do verbo “ir”. Pronto, pensei. Se ele
distinguir qual é o verbo, considero-o um gênio,
dou quatro, ele passa e seja o que Deus quiser.
− Esse “for” aí, que verbo é esse?
(...)
− Verbo for.
− Verbo o quê?
− Verbo for.
− Conjugue aí o presente do indicativo desse
verbo.
− Eu fonho, tu fões, ele fõe − recitou ele
impávido. − Nós fomos, vós fondes, eles fõem.
Não, dessa vez ele não passou. Mas, se
perseverou, deve ter acabado passando (...),
devidamente diplomado, ele deve estar fondo para
quebrar. Fões tu? Com quase toda a certeza, não.
Eu tampouco fonho. Mas ele fõe.
(Esta crônica, ora adaptada, integra o livro O conselheiro
Come. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 2000, disponível em
.)
Vocabulário:
Coevas (coevo): tempo passado, passagens retrógradas.
Coturno: elenco dos melhores dentre um grupo.
Vulpino: relativo à raposa; ardiloso; astuto.
Na organização do seu texto, João Ubaldo Ribeiro realiza
escolhas de palavras e de sinais de pontuação coerentes
com as suas intenções na interação com os seus leitores.
Sobre os recursos semântico-sintáticos e morfológicos e
os sinais de pontuação que dão progressão ao texto,
assinale o que for correto.
16) Em “Mas, se perseverou, deve ter acabado passando”
(linhas 80-81), o uso das vírgulas se justifica por
marcar o início e o término de uma oração
subordinada condicional.
Soluções para a tarefa
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não é subordinada condicional miga
stephaniepaggi:
está dizendo que é
Respondido por
1
Resposta: não é subordinada condicional miga isso mesmo.
explicção
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