Pontos importantes sobre a Crônica dada por Manuel da Costa Pinto.
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Resposta:
A TEORIA DE MACHADO DE ASSIS
O gênero conto na fronteira com o ensaio
No que tange à relação de Teoria do medalhão1
com o ensaio, primeiramente
tomamos por base a definição "conto-teoria", concebida por Alfredo Bosi (1999)2
e
retomada, recentemente, por Luís Augusto Fischer (2008),3
cujo trabalho enfatiza que
Machado de Assis passou a inventar novas técnicas narrativas no intuito de superar os
padrões, romântico e realista, porque tinha consciência de não haver método claro de
composição que fosse satisfatório, muito menos quanto à seleção de temas.
Desse modo, pressupõe Fischer, Machado tinha consciência de haver uma
"crise da representação" e, em razão disso, aceitou o risco de inovar, construindo
narradores cuja posição foi sempre uma tentativa de postular um eu, isto é, uma voz, um
colocar-se de onde narrar, a partir do qual comporia relatos. Buscando inovar o modelo,
Machado empenhou-se numa espécie de laboratório da escrita e ousou novas
estratégias, com o intuito de legitimar a voz narrativa no andamento da própria
narração.
Foi Bosi (1999) quem estabeleceu a distinção entre os primeiros contos e os
que apareceram a partir de 1870. Por um lado, os primeiros seriam mais conservadores
quanto à forma e neles Machado manteve-se fiel aos padrões das escolas literárias. Por
outro lado, os contos que surgiram depois apresentaram um grau maior de
complexidade na construção formal. Sobre essas narrativas, nomeadas "contos-teorias",
Bosi nos diz que exprimem "a amargura de quem observa a força de uma necessidade
objetiva que une a alma mutável e débil de cada homem ao corpo, uno, sólido e
ostensivo, da Instituição".4 Desse modo, segundo Fischer, esses contos estariam
alinhados no campo da indagação filosófica.
Essas considerações apontam para a irrupção da forma ensaística em TM, uma
vez que o ensaio é um gênero que está no limiar entre a reflexão filosófica e a invenção
literária. Manuel da Costa Pinto (1998) considera que se trata de uma "variante do
pensamento filosófico que deseja 'ressensualizar' a razão por meio da proximidade em
relação ao universo estético", ou seja, de sua configuração como "um espaço híbrido
entre o poético e o referencial".
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Sendo assim, tais contos são nutridos por uma
constante atividade intelectiva interpretativa.
Fischer constatou que a atividade interpretativa não atua sozinha na
configuração da estrutura do conto. Desse modo, ele destaca "cinco vetores de pressão"
que contribuem para essa conformação e que são os elementos que revelam a "invenção
de distâncias" produzidas por Machado nos contos. Esses vetores, quando aparecem
juntos em um único conto, dão à narrativa alta atividade interpretativa, ou, na definição
de Bosi, teremos um conto-teoria que assume um caráter ensaístico.
Em TM, já de início, o leitor ingênuo se depara com um texto que se auto-
intitula conto, porém sem as clássicas categorias "protagonista/antagonista", sem a
intensidade de um clímax e sem a identificação de um desfecho, ou mesmo sem as
ações nítidas de enredos classificados nas tradicionais divisões estruturais.
O que se vê em TM é um pai que se põe a dar conselhos ao filho, e nesses
conselhos encontramos uma atividade interpretativa que revela o alto teor ensaístico do
conto; a personagem faz reflexões crítico-irônicas acerca da cultura oficial dos
medalhões. Isso, de certa forma, exemplifica o que Gómez-Martínez (1992)6
comenta a
propósito do ensaio, cujo intuito "não é o de proporcionar soluções para problemas concretos, mas o de sugeri-las, ou de modo mais simples ainda, o de refletir sobre novos
possíveis ângulos de um mesmo problema."7
Para Afrânio Coutinho (2004), por sua vez, o ensaio
[…] significa "tentativa", "inacabamento", "experiência" […] é um
breve discurso, compacto, um compêndio de pensamento, experiência
e observação. É uma composição em prosa, breve, que tenta (ensaia)
ou experimenta, interpretar a realidade à custa de uma exposição das
reações pessoais do artista. Pode recorrer à narração, descrição,
exposição, argumentação; e usa como apresentação a carta, o sermão,
o monólogo, o diálogo, a "crônica" jornalística. É um gênero elástico,
flexível, livre, permite a maior liberdade no estilo, no assunto, no
método, na exposição.
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Esse caráter de experimentação sustenta a forma dialogada de TM que, a todo o
momento, se move criticamente entre o que deve e o que não deve estar presente na
postura do medalhão. Entretanto, o ir e vir do pensamento não ocorre de forma linear,
mas na mobilidade do discurso que, ao se construir como um conselho, guarda em si um
conhecimento calcado na experiência.
Por isso, sempre que o pai expõe o conselho, em seguida faz um julgamento
crítico acerca do "real representado".9
Ele inicia pela idade: "Geralmente, o verdadeiro
medalhão começa a manifestar-se entre os quarenta e cinco e cinquenta anos" (TM, p.
92). A seguir, destaca a aparência.
tá aí espero te ajudado