História, perguntado por estelaveloso2015, 4 meses atrás

Poesia Ser negro no Uruguai cultura e preconceito

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Respondido por filipearagaoozuk1q
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Resposta:

As manifestações artísticas e culturais são as principais ferramentas que salvaguardam a história dos diferentes povos africanos, trazidos como escravizados para a América Latina. Essa preservação exigiu –  e exige até hoje – muita resistência e resiliência por parte dos afro-latinos. Além de todo o sofrimento causado pelo período da escravidão, pouco foi feito, principalmente no campo das políticas públicas, de medidas que combatessem as desigualdades provenientes do período.

No mês da Consciência Negra, o Vamos Ler! recorda a produção de escritores e poetas afro-latinos, que de forma consciente e, algumas vezes insurgente, busca nos conscientizar sobre a necessidade de observarmos a pluralidade cultural e as injustiças de nossa América Latina.

A dificuldade encontrada pela equipe do Vamos Ler!, no momento de pesquisar nomes de escritoras e escritores afro-latinos, reforça o esforço desses autores de preservarem a memória dos nossos antepassados. E é muito importante ressaltarmos que, com ênfase em nossa ancestralidade, os artistas dão vida a trabalhos que reforçam a beleza e a capacidade dos povos tradicionais em reconhecerem a estreita conexão entre passado e futuro.

Índice de textos

Autobiografia

Me Gritaron Negra

Cartas para a minha mãe

Semblanza

Fragmentos de Changó, El gran putasDulce tortura

Não foi um cruzeiro

 

 

 

Autobiografia

EITO que ressoa no meu sangue

sangue do meu bisavô pinga de tua foice

foice da tua violação

ainda corta o grito de minha avó

LEITO de sangue negro

emudecido no espanto

clamor de tragédia não esquecida

crime não punido nem perdoado

queimam minhas entranhas

PEITO pesado ao peso da madrugada de chumbo

orvalho de fel amargo

orvalhando os passos de minha mãe

na oferta compulsória do seu peito

PLEITO perdido

nos desvãos de um mundo estrangeiro

libra… escudo… dólar… mil-réis

Franca adormecida às serenatas de meu pai

sob cujo céu minha esperança teceu

minha adolescência feneceu

e minha revolta cresceu

CONCEITO amadurecido e assumido

emancipado coração ao vento

não é o mesmo crescer lento

que ascende das raízes

ao fruto violento

PRECONCEITO esmagado no feito

destruído no conceito

eito ardente desfeito

ao leite do amor perfeito

sem pleito

eleito ao peito

da teimosa esperança

em que me deito

 

Abdias do Nascimento nasceu em Franca (São Paulo/Brasil), em 1914. Foi um ator, diretor, dramaturgo, escritor e pintor brasileiro, militante da luta contra a discriminação racial e pela valorização da cultura negra. Atuou também como  deputado federal e senador. No campo artístico, seu trabalho esteve direcionado, principalmente, para a produção teatral. Criou, em 1944, o Teatro Experimental do Negro (TEN), a primeira companhia a promover a inclusão do artista afrodescendente no panorama teatral brasileiro. Entre 1948 e 1951, Abdias dirigiu o jornal Quilombo, órgão de divulgação do grupo e de notícias de outras entidades do movimento negro. Em 1949 organizou a Conferência Nacional do Negro e,em 1950, o 1º Congresso do Negro Brasileiro. Em 1961 publicou o livro Dramas para Negros e Prólogos para Brancos, uma grande coletânea de peças nacionais que tratam da cultura negra, entre elas as montadas pelo TEN. Em 1968, devido a perseguição política, ele foi para um exílio. No exterior, atuou como conferencista e professor universitário, dedicando-se à pesquisa relacionadas à cultura religiosa afro-brasileira. Neste tempo, publicou uma série de livros denunciando a discriminação racial no Brasil. Faleceu em 2011.

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