Português, perguntado por maiconpires635, 8 meses atrás

Poesia: A Bomba Suja
Introduzo na poesia
A palavra diarreia.
Não pela palayra fria
Mas pelo que ela semeia,
É uma bomba-relógio
(o relógio é o coração)
que enquanto o homem trabalha
vai preparando a explosão.
Quem é que rouba a esse homem
o cereal que ele planta,
quem come o arroz que ele colhe
se ele o colhe e não janta.
Quem fala em flor não diz tudo.
Quem me fala em dor diz demais.
O poeta se torna mudo
sem as palavras reais.
Bomba colocada nele
muito antes dele nascer;
que quando a vida desperta
nele, começa a bater.
Quem faz café virar dólar
e faz arroz virar fome
é o mesmo que põe a bomba
suja no corpo do homem.
No dicionário a palavra
é mera ideia abstrata.
Mais que palavra, diarreia
é arma que fere e mata.
Bomba colocada nele
Pelos séculos de fome
e que explode em diarreia
no corpo
de quem não come.
Mas precisamos agora
desarmar com nossas mãos
a espoleta da fome
que mata nossos irmãos.
Que mata mais do
que faca,
mais
que
bala de fuzil,
homem, mulher e criança
no interior do Brasil.
Não é uma bomba limpa:
é uma bomba suja e mansa
que elimina sem barulho
vários milhões de crianças.
Mas precisamos agora
deter o sabotador
que instala a bomba da fome
dentro do trabalhador,
Por exemplo, a diarreia,
no Rio Grande do Norte,
de cem crianças que nascem,
setenta e seis leva à morte.
Sobretudo no nordeste
mas não apenas ali
que a fome do Piauí
se espalha de leste a oeste.
E sobretudo é preciso
trabalhar com segurança
pra dentro de cada homem
trocar a arma de fome
pela arma da esperança.
É como uma bomba D
que explode dentro do homem
quando se dispara, lenta,
a espoleta da fome.
Cabe agora perguntar
quem é que faz essa fome,
quem foi que ligou a bomba
ao coração desse homem.
GULLAR, Ferreira.​

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Respondido por jhuliadecassiac
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