Português, perguntado por Mxtheux1, 1 ano atrás

Poema em Linha Reta
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
(...)
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó principes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Nos versos acima transcritos, de Álvaro de Campos – um dos heterônimos de Fernando Pessoa -, pode-se reconhecer um conflito entre o eu poético e a realidade por ele vislumbrada. Tal conflito é marcado por:
A- uma ótica voltada para a valorização invejosa dos que andam em “linha reta”, colecionando vitórias B - uma visão que busca o reconhecimento positivo de conceitos vigentes no mundo convencional. C -uma construção de ordem marcadamente confessional, para livrar-se do desprezo dos conhecidos. D - a intenção do eu lírico de autoafirmar-se, independentemente das reconhecidas virtudes alheias. E -um tom crítico-irônico, em que o eu lírico se compara à maioria para definir-se como diferente.

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Respondido por SasaVih
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