podemos afirmar que a comercialização de atesanato prejudica a identidade indigena?
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Resposta:
Resumo: Conforme Hall (2002), os efeitos da globalização ocasionaram mudanças rápidas e permanentes no cenário mundial e contribuíram para o descentramento do sujeito. As minorias (negros, índios, mulheres, homossexuais, etc.) ganham voz e, por meio de seus discursos, contrapõem suas identidades aos modelos estáticos vigentes na sociedade. Sob esse viés, discute-se o lugar da literatura indígena no cenário literário brasileiro. Almeida (2009) aponta a fundação dessa literatura na tradição oral de conservação e transmissão de suas “histórias”. Ao constituir uma voz de questionamento e contrapor-se ao discurso hegemônico, aos povos indígenas é possível evidenciar uma nova configuração identitária. Dentre os autores indígenas, Daniel Munduruku destaca-se no cenário literário brasileiro. Sua ação é de militância, sua literatura é política. Este trabalho busca refletir sobre o processo de escrita e (re)invenção indígena em sua obra premiada pela UNESCO na questão da tolerância, em 2002, Meu vô Apolinário: um mergulho no rio da (minha) memória. A análise do texto evidencia que a assinatura desse escritor representa uma nova consciência de classe fundada em linguagem simples e clara. O autor indígena cria novos olhares sobre o índio brasileiro, em que não vigora os estereótipos da barbárie, da preguiça e do atraso cultural.
Palavras-chave: Identidades; Literatura indígena; Alteridade
A pós-modernidade é marcada por mudanças significativas no contexto sócio- político-econômico-cultural em nível global. Essas alterações assinalam o desenvolvimento de novas identidades que surgem do pertencimento (ou do desejo de pertencimento) a étnicas, raças, línguas, religiões e, acima de tudo, nações. As classes ditas minoritárias – tais como negros, mestiços, índios, mulheres, homossexuais, judeus, etc. – ganham voz nesse novo cenário e, por meio da evidencia de seus discursos, contrapõem suas „imagens‟ aos modelos estáticos existentes na sociedade vigente.
Na concepção Bakhtiniana, identidades são relacionais. Conforme esse teórico, nós e os outros constituímos múltiplos centros concretos, responsáveis emocional- volitivamente, em que não há uma centralidade de pontos de vista, visto que esses múltiplos centros „orbitam‟ no entorno do eu-para-mim, justificando diversas formas de percepção do mundo. Daí tem-se, que não existem verdades únicas, histórias únicas, linguagens (sentidos) únicos. Existem negociações entre os seres. Portanto, a multiplicidade de centros, e seus deslocamentos identitários constituem-se a característica básica do homem na contemporaneidade.
Conforme Hall (2002), o conceito de identidades constitui-se como algo plástico, complexo, pouco compreendido na ciência social contemporânea para ser amplamente questionado. Assim, discute-se a mudança de uma política de identidades para uma política de diferenças. É sob esse viés que se discute o lugar da literatura indígena na cena literária no Brasil.
A introdução de obras literárias indígenas no espaço de leitura dos não-índios representa o estabelecimento de questionamentos e discussões acerca do lugar da alteridade, das identidades indígenas e a questão das estereotipias. Conforme Marilena Chauí (1994):
Quem lê os primeiros relatos sobre o Novo Mundo – diários e cartas de Colombo, Vespúcio, Caminha, Las Casas – observa que a descrição dos nativos da terra obedece a um padrão sempre igual: são seres belos, fortes, livres, “sem fé, sem rei e sem lei”. As descrições de Vespúcio, mais do que as dos outros, são de deslumbramento, particularmente quando se referem aos homens jovens e às mulheres. A imagem dos “índios” não é casual: os primeiros navegantes estão convencidos de que aportaram no Paraíso Terrestre e descrevem as criaturas belas e inocentes que viveriam nas cercanias paradisíacas. […] Contraposta à imagem boa e bela dos nativos, a ação da conquista ergueu uma outra, avesso e negação da primeira. Agora, os “índios” são traiçoeiros, bárbaros, indolentes, pagãos, imprestáveis e perigosos. Postos sob o signo da barbárie, deveriam ser escravizados, evangelizados e, quando necessário, exterminados. Durante os últimos 500 anos, a América não cessou de oscilar entre as duas imagens brancas dos índios e, nos dois casos, as gentes e as culturas só puderam aparecer filtradas pelas lentes da bondade ou da barbárie originária. […] Entre os efeitos dessa obra – colonização, evangelização, escravidão, aculturação, extermínio – destaca-se uma certeza de que os povos indígenas pertencem ao passado das Américas e ao passado do Brasil. (p.11-12)
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