pessoal, podem me ajudar?
Metonímia – a palavra me ficou na memória desde o ano de 1930, quando publiquei o meu livro de estréia, aquele romance de seca chamado O Quinze. Um crítico, examinando minha obrinha, censurava-me porque, em certo trecho da história eu falava que o galã saíra a andar “com o peito entreaberto na blusa”. “Que disparate é esse?”, indagava o sensato homem. “Deve-se dizer é: blusa entreaberta no peito”. Aceitei a correção com humildade e acanhamento, mas aí o meu ilustre professor de Latim, Dr. Matos Peixoto, acudiu em meu consolo. Que estava direito como eu escrevera; que na minha frase eu utilizara uma figura de retórica, a chamada metonímia – tropo que consiste em transladar a palavra do seu sentido natural da causa para o efeito, ou do continente para o conteúdo. E citava o exemplo clássico: “ taça espumante” – continente pelo conteúdo, pois não é a taça que espuma e sim o vinho. Assim sendo, “peito entreaberto” estava certo, era um simples emprego de metonímia. E juntos, numa nota de jornal, meu mestre e eu silenciamos o crítico. Não sei se o zoilo aprendeu a lição. Eu é que a não esqueci mais. Volta e meia lá aplico a metonímia – acho mesmo que é ela a minha única ligação com a velha retórica.
Faz pouco tempo, por exemplo, dei com uma ocorrência de metonímia prática: certa senhora nossa conhecida, há anos hospedada numa pensão, saiu de repente da casa e passou a ser inimiga mortal da senhoria. Indagada da gente por que aquela inimizade repentina, quando todos sabíamos que a dona da pensão era boa alma, lhe dava injeções, lhe emprestava a bolsa de água quente e a acudia nos seus acessos cardíacos, a ofendida explicou:
- O que eu não perdoo a ela é o telefone. Todo dia o telefone da copa me chamava – eu ia ver, era trote.
- Mas não era ela que dava trote!
- Não. Mas de quem era o telefone?
Agora sei de outro caso de metonímia aplicada, que ainda é mais importante, pois se trata de caso de crime. Relação de causa e efeito, ou mesmo culpar o continente pelo conteúdo – qualquer dos dois está certo.
Assim pois aconteceu numa cidade do interior – não conto onde, para não dar lugar a maledicência. Diga o pecado mas não diga o pecador.
Pois nessa cidade do interior havia um homem; não era velho, mas pior que velho, porque era gasto. Em moço sofrera de beribéri, o que lhe arruinou para sempre o futuro. Tinha as pernas fracas, o peito cansado e asmático, a cor terrosa, o olhar vidrado de doente crônico. Contudo era home de algumas posses, casa própria com loja contígua, onde instalara o armazém; vivesse ele no Ceará, o armazém se chamaria bodega, em Pernambuco venda, no Pará mercearia, em São Paulo empório. E já que eu não quero designar o local do crime, qualquer nome desses serve. Bodega ou empório, era comércio, e quem tem comércio tem dinheiro; de jeito que, apesar de tão mal-ajambrado, o nosso homem casou. Justiça se faça, que não tentou a Deus com nenhuma beldade: procurou moça pobre, magrinha, operária numa oficina de roupas de homem. Diziam até que ela tinha cara de tísica. Mas não contava o prezado amigo com os efeitos da boa nutrição no metabolismo feminino. Sei é que a cara-de-tísica, livrando-se das oito horas de trabalho à mesa de costura, passando a comer bem, em casa sua, a boa carne fresca, o seu bom tutu, a sua salada de pepino, os doces de lata, as doces laranjas da serra que o marido comprava aos centos para a freguesia, mudou como se fosse encantada. Começou a botar corpo, a aumentar as polegadas nos lugares certos – parece até que estava crescendo. E as cores do rosto, então! Ainda mais que, com a afluência de dinheiro, deu para se vestir bem, se pintar, ondular o cabelo, usar engenho e arte a fim de aumentar os dotes naturais, pois não sei se contei que, de cara mesmo, ela não tinha nada de feia.
E assim bela e assim vestida e assim pintada e formosa, começou a lhe pesar o marido enfermiço, envelhecido antes do tempo. Que, mal fechava o armazém, tomava a janta de leite (tinha cisma com carne), pegava o jornal, sentava na cadeira-preguiçosa até a hora de ir para a cama. Não queria saber de cinema, nem de futebol, nem sequer de rádio. Até mesmo por amor não se interessava grande coisa, que aquele corpo franzino, amarelo, não era de pedir amores. Só a convivência morna, insossa, ité, como se diz em São Paulo.
E foi aí que o destino caiu dos seus cuidados e fez a primeira intervenção: suscitou um sargento.
a) Onde acontecem os fatos narrados no conto propriamente dito?
b) Qual a explicação dada pelo narrador para não identificar precisamente o lugar?
c) Quais são as personagens?
depois do casamento, a moça ''mudou como se fosse encantada''.
a) Que mudanças foram essas?
b) Qual a causa dessas mudanças?
''... e fez a primeira intervenção: suscitou um sargento.'' - marca um limite no desenvolvimento da história, e nesse momento uma nova personagem é introduzida: um sargento.
Por que o aparecimento de um sargento é interpretado como um descuido do destino?
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1-A-)onde os fatos acontecem--->não há uma identificação onde acontece os fatos no conto .( numa cidade do interior ;Ceará ;S.paulo ;Pernanbuco;Para )B-)o nome das cidades marcam apenas o espaço geografico ,despistando ,e confundindo o leitor sendo esta a intenção do narrador .C-)0 narrador também faz a opção de não especificar o nome dos personagens eles são chamados apenas de UM HOMEM ; A MOÇA ; O MARIDO ; ELA ;UM SARGENTO 2-A )como a moça passou a ter uma boa alimentação ,ela botou corpo estava crescendo .B-)resultou numa mudança "mudou como se fosse encantada "-->>assim bela ;assim vestida;assim pintada e formosa ".3-) SURGIU O SARGENTO --ele é considerado um descuido o destino porque o marido só oferece a esposa o valor financeiro e a esposa demonstra que busca outros valoresno casamento ,Porisso aparece o sargento , para tirá-la da vida "morna " ,"insossa", "ité". ////ESPERO TER AJUDADO
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a) Em uma cidade do interior.
b) "Para não dar lugar a maledicência"
c) Um homem (O marido),uma mulher (a esposa),um sargento e o carteiro.
2-
a) Botou corpo,aumentou as polegadas nos lugares certos,ganhou cor no rosto passou a vestir-se bem,a ondular o cabelo.
b) Além de se livrar das oito horas de trabalho na costura passou a morar e a comer bem.
3- Porque sua chegada romperam com o equilíbrio da situação inicial.
Espero ter ajudado.!!!