Pequeno Texto
da construção de hidrelétricas na região da amazônica em terras indígenas
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Erguida em meio a uma imensidão de floresta, a 300 quilômetros do mais próximo centro urbano pela inacabada Rodovia Transamazônica, a cidade de Jacareacanga ganhou fama nacional ao estampar manchetes de jornais em fevereiro de 1956. Naquele ano, militares da Aeronáutica contrários ao então presidente, Juscelino Kubitschek, instalaram um quartel-general no município, dominaram territórios vizinhos e ensaiaram um golpe de Estado que acabou rapidamente reprimido. Enredo digno de cinema. Quase 60 anos depois daquela que ficou conhecida como Revolta de Jacareacanga, essa cidade do sudoeste do Pará ressurge agora como cenário de uma trama tão ou mais intrigante. Nas aldeias dos arredores, milhares de índios mundurucus – notáveis por cortar a cabeça de seus inimigos em batalhas e usá-las como troféus, prática que se estendeu até o final do século XIX – declararam guerra ao governo federal. No último ano, pintaram seus corpos, empunharam flechas e bordunas para dar este mesmo recado ao governo. “Somos caçadores de cabeça”, disse na semana passada Josias Manhuary, de 37 anos, o líder dos guerreiros. “Se eles insistirem na construção de hidrelétricas nas nossas terras, vamos atacar.”