[...] Pensando sobre como ganhara tanto dinheiro, já nem admitia para si mesmo, a não ser vagamente e a cada dia com menos freqüência, que desviara os recursos do barão e se apropriara de tudo em que pudera pôr as mãos, em todo tipo de tranquibérnia possível. Não, não fora bem assim, precisava acabar com a mania de 5 – ser excessivamente severo consigo mesmo, chegava a parecer uma propensão ao martírio. E o tino comercial empregado a serviço do barão, as dificuldades sem fim, as soluções heróicas encontradas para problemas insuperáveis? E o sangue, isto mesmo, o sangue e o suor dados ao barão? E a situação tranqüila da baronesa, hoje empobrecida, é verdade, mas vivendo com toda a dignidade, ainda na mesma casa 10 – do Bângala, assistida em todas as suas necessidades e as de seus filhos? Não tinha mais tantos negros, é também verdade, apenas três negras e dois negros, pois a dureza dos tempos atuais e os azares que por todos os lados perseguiram os negócios do barão aconselharam a que a escravatura fosse reduzida ao mínimo indispensável. Que queriam? A pesca da baleia piorava a cada ano, era cada vez mais coisa do 15 – passado que o progresso soterraria, e a venda da Armação do Bom Jesus fora um excelente negócio, apesar do preço aparentemente baixo. Não contara à baronesa haver sido ele mesmo, oculto numa associação com dois comerciantes franceses, quem comprara a Armação e agora efetivamente a venderia com bom lucro. Afinal, fora uma venda como outra qualquer e de que maneira iriam enfrentar as despesas 20 – que se avultavam, com a crise da lavoura e do comércio flagelando todos os negócios do barão? Alguns amigos da baronesa haviam mesmo concordado em que tinha sido bom negócio, como acontecera com o Bacharel Noêmio Pontes de Oliveira, hoje prestando serviços de advocacia a Amleto, depois de, com a estreita colaboração deste, realizar o inventário do barão — inventário, por sinal, decepcionante, com tantas 25 – dívidas, ônus e gravames que, não fora a dedicação de Amleto, trabalhando à frente de tudo até mesmo sem remuneração durante muitos meses, a baronesa e seus filhos talvez tivessem sorte muito triste. [...] RIBEIRO, J. U. Viva o povo brasileiro: romance. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. p. 229-230. Em relação ao fragmento transcrito, pode-se afirmar: (01) A análise do texto demonstra que uma realidade pode apresentar múltiplas faces, a depender de quem a observa e do lugar ocupado pelo observador. (02) Os sucessivos questionamentos presentes no texto são recursos utilizados por Amleto para justificar sua ética irretocável. (04) A autocompaixão de Amleto em relação a seus atos é demonstrada ironicamente no texto. (08) O trecho em que Amleto se diz severo consigo mesmo e afirma que isso parecia “uma propensão ao martírio” (l. 5-6) é revelador do cinismo da personagem e da ironia do narrador. (16) As qualificações “sem fim” (l. 6), “heróicas” (l. 7) e “insuperáveis” (l. 7) valorizam o esforço sincero de Amleto para servir à família do barão. (32) As ressalvas “hoje empobrecida, é verdade” (l. 8-9) e “apesar do preço aparentemente baixo.” (l. 16) contradizem as avaliações positivas enunciadas sobre a situação da baronesa e sobre a venda da Armação do Bom Jesus. (64) Aobservação “não fora a dedicação de Amleto” (l. 25) expressa uma conseqüência das ações passadas da personagem.
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2
Olá.
Conforme o enunciado, compreende-se que as assertivas corretas são 01 + 04 + 08 + 32= 45.
A assertiva 02 está incorreta, uma vez que o texto não apresenta a ética irretocável de Amleto, mas sim as suas trapaças realizadas para que conseguisse dinheiro.
E isto pode ser percebido no seguindo trecho, quando o autor aborda logo no início do texto "que desviara os recursos do barão e se apropriara de tudo em que pudera pôr as mãos, em todo tipo de tranquibérnia possível".
A assertiva 16 também é incorreta, porque os atributos destacados, não fazem parte do perfil de Amleto, que na verdade, não era um herói, e não queria servir a família do barão.
Na última assertiva 64, o autor faz uma ironia sobre as atitudes de Amleto, e não diz respeito ao que realmente o personagem fez. Por isso é incorreta.
Espero ter ajudado!
Conforme o enunciado, compreende-se que as assertivas corretas são 01 + 04 + 08 + 32= 45.
A assertiva 02 está incorreta, uma vez que o texto não apresenta a ética irretocável de Amleto, mas sim as suas trapaças realizadas para que conseguisse dinheiro.
E isto pode ser percebido no seguindo trecho, quando o autor aborda logo no início do texto "que desviara os recursos do barão e se apropriara de tudo em que pudera pôr as mãos, em todo tipo de tranquibérnia possível".
A assertiva 16 também é incorreta, porque os atributos destacados, não fazem parte do perfil de Amleto, que na verdade, não era um herói, e não queria servir a família do barão.
Na última assertiva 64, o autor faz uma ironia sobre as atitudes de Amleto, e não diz respeito ao que realmente o personagem fez. Por isso é incorreta.
Espero ter ajudado!
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