Para o filósofo, escritor e palestrante Mario Sergio Cortella, a ciência desempenha um papel fundamental no desenvolvimento de qualquer
ATUALIZADO EM 23 AGO 2017 - 10H57
nação que almeje dar a seus cidadãos uma vida mais sofisticada. É evidente que o acesso ao conhecimento científico eleva a condição
geral de uma sociedade porque aumenta seu repertório de soluções”, disse o pensador a GALILEU. Só que, para a ciência atingir todo o
potencial de empoderamento humano que lhe é inerente, não basta que fique confinada nas universidades e círculos acadêmicos. Ela
precisa circular. E os divulgadores científicos estão entre os agentes que melhor promovem essa disseminação da ciência e de sua
importância na sociedade. "Eles estabelecem pontes, estendem o convite, abrem a porta para que a pessoa que não esteja no campo da
ciência também possa adentrar o território", diz. Para o filósofo, o principal desafio dos divulgadores é explicar de forma simples, mas não
simplória. Cortella também falou sobre os desafios de conviver com o excesso de informações dos tempos atuais. Ele deu algumas dicas
para lidar com o problema da melhor forma possível –
abaixo a algumas partes da conversa:
- e extrair conhecimento e sabedoria em meio à correria da vida moderna. Confira
Qual é a importância de termos uma sociedade minimamente letrada em assuntos de ciência e tecnologia? Isso
influencia em outras esferas, como política ou cultura?
Toda sociedade que forma de maneira mais sofisticada seus cidadãos, oferece maior autonomia, maior número de
ferramentas de liberdade, emancipação e capacidade criativa. Claro que a ciência não é a única maneira de se fazer as
coisas, mas é a que deu a eficácia maior em tempo menor. Não é infalível, mas tem nivel de resultado muito mais
estruturado. É evidente que o acesso ao conhecimento científico eleva a condição geral de uma sociedade porque aumenta
seu repertório de soluções. Mesmo que a gente tenha encantamento pela sabedoria popular, que é importante e
extremamente relevante, ela é restrita. A ciência sabe que precisa de resultados, não apenas de atitudes reflexivas.
Vivemos em uma sociedade, em uma civilização, onde o conhecimento flui livremente e em abundância ao alcance
de qualquer pessoa, mas a correria do dia a dia faz com que a grande maioria delas não tenha tempo de absorver
esse conhecimento de forma satisfatória. Como o senhor enxerga essa questão?
A gente não necessariamente tem abundância tem excesso. Abundância é quando tem fartura, suficiência, temos algo
que ultrapassa nossa capacidade de usufruto, de absorção e apropriação. É por isso que em grande medida o que falta
hoje é o critério. Aquilo que faz com que eu, pegando o excesso, retire o que me serve e descarte o que não me serve é
exatamente esse critério. Um dos exemplos mais fortes vem da área do self service. Quando você entra em uma loja, em
uma livraria, tudo é mega, megastores, há centenas e centenas de produtos à disposição. Se não tiver critério, a pessoa
enlouquece. Especialmente no campo do conhecimento, não se deve confundir: informação é cumulativa, conhecimento é
seletivo. Comer bem não é comer muito.
como
Falando especificamente sobre o conhecimento científico, que é complexo por natureza e cuja compreensão exige
um esforço mental considerável,
vê o papel dos divulgadores de ciência para a sociedade?
O divulgador é aquele que coloca a pessoa em contato, alguém que de maneira simples sem ser simplória estabelece uma
ponte, estende o convite, abre a porta para que a pessoa que não esteja no campo direto da ciência em seu cotidiano
também tenha a possibilidade de adentrar nesse território. Há uma grande diferença
entre o simples e o simplório, sou professor de filosofia, preciso fazer com que ela seja palatável, digerivel, se quiser fazer
com que as pessoas tenham possibilidade de fruição dessa área do conhecimento. Não posso ser simplório, delirar não é
filosofar. Opinião balizada é diferente da achologia. Quando alguém que tem estrutura de fundamento diz "eu acho", está se
apoiando não só nele, mas no conjunto de instâncias legitimadoras e revisoras do conhecimento que emite. Quando é
superficial, é só opinião, não um conceito fundamentado.
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