História, perguntado por AanaCcarolina2624, 11 meses atrás

Os textos a seguir abordam a questão da construção de heróis nacionais. O primeiro é do historiador
brasileiro José Murilo de Carvalho e o segundo, uma reportagem da Agência Senado. O quadro relaciona
os nomes que figuram no Livro dos Heróis da Pátria. Leia-os e responda às questões.texto 1

Heróis são símbolos poderosos, encarnações de ideias e aspirações, pontos de referência, fulcros de iden-
tificação coletiva. São, por isso, instrumentos eficazes para atingir a cabeça e o coração dos cidadãos a
serviço da legitimação dos regimes políticos. Não há regime que não promova o culto de seus heróis e não
possua o seu panteão cívico. Em alguns casos, os heróis surgiram quase espontaneamente das lutas que
precederam a nova ordem das coisas. Em outros, de menor profundidade popular, foi necessário maior es-
forço na escolha e promoção da figura do herói. É exatamente nesses últimos casos que o herói é mais im-
portante. A falta de envolvimento real do povo na implantação do regime leva à tentativa de compensação,
por meio da mobilização simbólica. Mas, como a criação de símbolos não é arbitrária, não se faz no vazio
social, é aí também que se colocam as maiores dificuldades na construção do panteão cívico. Herói que se
preze tem que ter, de algum modo, a cara da nação. Tem de responder a alguma necessidade de aspiração
coletiva, refletir algum tipo de personalidade ou comportamento que corresponda a um modelo coletiva-
mente valorizado. Na ausência de tal sintonia, o esforço de mitificação de figuras políticas resultará vão.
Os pretendidos heróis serão, na melhor das hipóteses, ignorados pela maioria e, na pior, ridicularizados.
CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. p. 55-56.texto 2

[...], o que dá a um vulto histórico a dimensão heroica? Ou, como lembram os historiadores, vale a pena cultuar heróis?
O dramaturgo alemão Bertolt Brecht cunhou a frase “Infeliz o país que precisa de heróis”. Mas
todos os países têm os seus. Os americanos cultuam a memória dos seus chamados founding
fathers (pais fundadores), como Thomas Jefferson e Benjamin Franklin. Um Panteão em Paris abriga os restos mortais de célebres franceses como
Voltaire e Victor Hugo. [...] O modelo brasileiro, de seleção de heróis por meio de projetos de lei, não tem paralelo em ou-
tros países. Em geral, o status de herói — aliás,duramente criticado pela historiografia contemporânea — é alcançado por meio do tempo e pelo
reconhecimento do povo. No caso mais recente, da indicação pelo senador Marconi Perillo
(PSDB-GO) de Getúlio Vargas para integrar a lista, entra em cena outro aspecto do debate: afinal,
os “heróis” precisam ser “perfeitos”, à imagem dos personagens mitológicos como Hércules e Aquiles?
— Se o fossem, teríamos que reescrever a história do Brasil. Esta postura só revela a ignorância sobre
a competente historiografia que vem sendo realizada em nossas universidades, que traz à tona não
“heróis” cuidadosamente maquilados, mas atores históricos de carne e osso, interagindo com os diferentes momentos políticos, a sociedade, a economia e as mentalidades de uma época — diz a carioca
Mary Del Priore, autora de livros e professora de pós-graduação em História.[...]
— Ao privilegiar o culto à figura do “herói nacional”, criou-se, no imaginário coletivo da população brasi-
leira, a ideia de que a solução para nossos inúmeros problemas sociais depende, única e exclusivamente,
da ação isolada de um homem/mulher. A historiografia contemporânea considera que todos fazem a His-
tória, ou seja, todos somos sujeitos históricos — ensinava o deputado [federal Paulo Lima, do PMDB-SP].
Livro dos Heróis da Pátria tem hoje apenas dez nomes. 20 de março de 2009. Disponível em: noticias/materias/2009/03/20/livro-dos-herois-da-patria-tem-hoje-apenas-dez-nomes>. Acesso em: 15 nov. 2012.[...]

a) De acordo com o historiador José Murilo de Carvalho, como surge o mito de um herói?
b) Analisando a listagem do livro dos heróis, que outros personagens históricos já estudados por você foram transformados em heróis?
c) Para José Murilo de Carvalho, que característica um herói deve possuir para que não seja ignorado ouridicularizado?
d) De acordo com a historiadora Mary Del Priore, qual a contribuição da historiografia atual no que diz respeito à heroificação?

Anexos:

Soluções para a tarefa

Respondido por jeannecardoson
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Respostas:

a) Segundo José Murilo de Carvalho, um herói pode surgir de forma espontânea durante o conflito que precede a uma significativa mudança social ou o herói é promovido pelo Estado. No caso da última situação, pode ser complicado que o povo, não tendo participação na 'escolha' do herói, aceite a representação que o Estado procura ensinar.

b) Resposta pessoal. O mais conhecidos são Tiradentes e Zumbi dos Palmares.

c) Para José Murilo de Carvalho, para não ser ridicularizado, o herói deve representar algo que o povo valorize ou necessita. É muito comum, por exemplo, que os heróis de uma nação simbolizem a luta pela liberdade política e financeira conquistada.

d) Mary Del Priore explica que a historiografia atual se recusa a apresentar uma versão estereotipada dos chamados heróis e heroínas. Em vez disso, são apresentados "atores sociais", pessoas normais de seu tempo e lugar, cujas decisões e circunstâncias permitiram ter um papel destacado em algum acontecimento histórico.
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