Português, perguntado por fs1922819, 9 meses atrás

Os Sapos

Enfunando19 os papos,

Saem da penumbra,

Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,

Berra o sapo-boi:

- "Meu pai foi à guerra!"

- "Não foi!" - "Foi!"

- "Não foi!".

O sapo-tanoeiro,

Parnasiano aguado,

Diz: - "Meu cancioneiro

É bem martelado.

Vede como primo

Em comer os hiatos!

Que arte! E nunca rimo

Os termos cognatos.

O meu verso é bom

Frumento20 sem joio.

Faço rimas com

Consoantes de apoio.

Vai por cinquenta anos

Que lhes dei a norma:

Reduzi sem danos

A fôrmas a forma.

Clame a saparia

Em críticas céticas:

Não há mais poesia,

Mas há artes poéticas..."

Urra o sapo-boi:

- "Meu pai foi rei!"- "Foi!"

- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".

Brada em um assomo

O sapo-tanoeiro:

- A grande arte é como

Lavor de joalheiro.

Ou bem de estatuário21.

Tudo quanto é belo,

Tudo quanto é vário,

Canta no martelo".

Outros, sapos-pipas

(Um mal em si cabe),

Falam pelas tripas,

- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!".

Longe dessa grita,

Lá onde mais densa

A noite infinita

Veste a sombra imensa;

Lá, fugido ao mundo,

Sem glória, sem fé,

No perau profundo

E solitário, é

Que soluças tu,

Transido de frio,

Sapo-cururu Da beira do rio […]


Disponível em: . Acesso em: 25 jun. 2019.(P1219Q10SP_SUP)

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19 enfunando: enchendo.

20 frumento: espécie de trigo.

21 estatuário: relativo a estátuas.



(P1219Q10SP) Manuel Bandeira é um poeta expressivo do Modernismo brasileiro, conforme se observa no poema “Os Sapos”, pois
A- demonstra preocupação com a forma e obedece ao rigor poético de rimas ricas.
B- se confirma com a estilística parnasiana e critica a utilização de versos brancos e livres nos poemas modernistas.
C- evidencia a forma poética dos versos rimados e elaborados para demonstrar alienação em relação ao seu cotidiano.
D- transforma a poesia em arte pela arte, como uma pintura ou escultura, com descrições em vocabulário sofisticado e erudito.
E- trabalha com a ironia e com a paródia, a fim de despertar o público leitor para a necessidade de ruptura e transformação da poesia.

Soluções para a tarefa

Respondido por scarvalho914
9

Resposta:

Letra E

trabalha com a ironia e com a paródia, a fim de despertar o público leitor para a necessidade de ruptura e transformação da poesia.

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