os povos primitivos consumiam muitos recursos naturais justifique
Soluções para a tarefa
Resposta:
Os começos da arte encontram-se onde também se encontram os primórdios da civilização. A luz da história ilumina apenas a última e curta etapa do longo caminho percorrido pela humanidade. A história não é possível escla-cer-nos sobre a primeira metade desse caminho. A etnografia, ao contrário, pode revelar–nos os povos primitivos nos tempos atuais. Antes de nos dirigirmos para o nosso objetivo, sob a égide da etnografia, devemo-nos entender de início sobre o sentido de um termo que se faz mister precisar muito mais do que se tem feito até agora. Todos os sociólogos referem-se a povos primitivos, cada qual empregando essa palavra numa acepção diferente.
É certo, e não adiantamos muito dizendo isso, que o termo "povo primitivo" é um dos menos claros e mais variáveis de toda a terminologia etnográfica. Deixando de parte velhas nações civilizadas da Ásia, teríamos trabalho em encontrar um povo europeu que já não se tenha denominado primitivo1. A outra expressão "selvagens" (Naturvölker), de preferência usada pela etnologia, é igualmente pouco precisa e não se faz mister precisá-la mais. Waitz, por exemplo, considera "selvagens" os negros do Sudão que constituem Estados e os bosquimanos errantes do deserto de Kalahari. É verdade que Ratzel tentou classificar à parte os negros do Sudão, como "semicivilizados", reunindo, entretanto, sob a denominação de "selvagens" um conjunto variadíssimo de civilizações diversas. As tribos de anões que levam vida de caçadores nas florestas da África central são para ele tão selvagens quanto os zulus, que formam uma nação organizada, ocupando-se da agricultura e da criação de animais domésticos. E coloca também os polinésios horticultores, artistas hábeis e técnicos espertos, ao lado dos miseráveis australianos. Entre um habitante das ilhas Sandwich e um indígena do continente australiano existe, sem dúvida, maior diferença de civilização que entre um árabe e um europeu instruídos. No entanto, Ratzel, que distingue os árabes "semicivilizados" dos povos europeus "civilizados", reúne em um só grupo polinésios e australianos. Uma classificação assim sumária pode ter um valor provisório, suficiente para uma orientação geral, mas deve ser recusada quando se trata de tirar conclusões sociológicas. As conseqüências deploráveis dessas classificações superficiais revelam-se assaz claras em certas fantasias sociológicas que há alguns anos passam por leis.
Que é um povo primitivo, ou melhor, quais os povos que possuem a mais baixa e primitiva forma de civilização? Nossa tarefa consiste, pois, em classificar as diferentes civilizações que a história e a etnografia nos dão a conhecer, segundo o seu grau de desenvolvimento mais ou menos elevado. A nosso ver, é inútil recordar aqui aos leitores que não se trata absolutamente dos caracteres físicos, mas da civilização dos diversos grupos étnicos, porque amiúde se confunde esse problema, tentando–se resolvê-lo antropológicamente. A construção da escala da civilização dos povos compete à etnografia, que não tem aqui nenhuma relação com a antropologia física. No máximo, esta poderia proporcionar–nos uma escala do desenvolvimento físico das raças2. Raça e nação são coisas perfeitamente distintas. As qualidades ou características que filiam um indivíduo a determinada raça nada dizem sobre o grau de civilização a que pertence ou poderia atingir. Estaríamos muito mais autorizados a considerar as diferenças do caráter das diversas raças como conseqüência da diversidade das formas de civilização, que considerar estas como resultado do caráter de uma raça. Nossas pesquisas acerca da arte primitiva dar-nos-ão, além disso, uma prova da escassa influência que o caráter exerce sobre a civilização.