Os porcos do compadre
De outra feita Malasartes
Aprontou bela trapaça.
Foram os porcos do compadre
Que causaram toda a graça.
Malasartes era compadre
De um honesto sitiante,
A quem tinham enganado
De uma forma humilhante.
Certa vez um fazendeiro,
Desonesto e pão duro,
Enganou o tal compadre,
Que ficou num grande apuro.
O compadre tinha porcos,
Eram vinte ou pouco mais.
O pão-duro comprou todos,
Porém não pagou jamais.
—Malasartes, ai me acuda!
Ele nunca vai pagar!
—Fique calmo, meu compadre.
Eu sei como te vingar!
Malasartes, muito humilde,
Foi à casa do danado.
Pediu pra vender os porcos
E foi logo empregado.
Malasartes fez que foi
Para os lados do mercado.
Mas foi mesmo para a casa
Do compadre aperreado.
—Pegue logo, tudo é seu.
Vou agora preparar
Para esse fazendeiro
A lição mais exemplar.
Em seguida, no mercado,
Tratou logo de comprar
Duas dúzias de rabinhos
Pro pão-duro engambelar.
A cem metros da fazenda,
Para onde foi ligeiro,
Os rabinhos espetou
Bem certinho no atoleiro.
Correu pra fazenda, aflito:
—Oh, patrão, vem cá ligeiro!
Os seus porcos se afundaram
Bem no meio do atoleiro!
—Que desgraça, meus porquinhos?
O atoleiro é muito fundo.
Venha, Pedro, me ajudar.
Chama logo todo mundo!
—há tempo, meu patrão.
Temos de nos apressar.
Pois se a gente perder tempo,
Vão os porcos se afogar!
Bem nervoso o fazendeiro
Correu com o Pedro atrás:
—Me ajude a puxar os porcos,
vamos, força, meu rapaz!
— Meu patrão, tenha cuidado!
Sua força é demais,
Pois está arrancando os rabos
Desses pobres animais!
Pra salvar os tais porquinhos,
O patrão se esforçava:
Quanto mais força fazia,
Mais rabinhos arrancava...
— Vai pra casa, Malasartes,
bem depressa a correr!
Acho que só tem um modo
Para os porcos socorrer.
Só cavando vai dar jeito,
Se algum jeito ainda houver.
Vê se traz dois enxadões,
Peça pra minha mulher!
Malasartes foi depressa
Para a casa da fazenda
E falou para a patroa
Que havia uma encomenda,
Muito boa, com certeza,
Que acabara de chegar,
E pediu dois mil “pacotes”
Pro patrão poder pagar.
A patroa era sabida,
Bem difícil de enganar,
Estranhando aquela história,
Resolveu assim falar:
—Meu marido é controlado,
nunca deu nada a ninguém.
Você está enganado,
Não vou dar nenhum vintém!
Apontou o Malasartes
para o lado do patrão.
Com dois dedos como um V,
E pediu explicação:
— Meu patrão, não eram dois?
Diga logo, tenha dó.
Ou será que me enganei
E vai ver que foi um só?
A pensar nos enxadões,
O caipira se enganou.
Apontou também dois dedos
E a mentira confirmou.
A mulher se convenceu
E entregou todo o dinheiro.
Malasartes pôs no bolso
E sumiu dali ligeiro...
Foi bem feito pro caipira.
Quem mandou ser desonesto?
Pois ficou sem os tais porcos
E perdeu ainda o resto!
Depois de tanta aventura,
Vai ficar esta certeza:
Quem não tem força e poder
Tem de usar a esperteza...
BANDEIRA, Pedro. Malasaventuras. Safadezas Do Malasartes.
02 – Releia a 3ª e 4ª estrofe (versos 4 a 16). Explique com suas palavras qual foi a desonestidade cometida pelo fazendeiro?
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Conforme é possível ver na 3ª e na 4ª estrofe, a desonestidade cometida pelo fazendeiro foi o fato de comprar todos os porcos que o seu compadre possuía e nunca pagar a dívida.
O fazendeiro faltou com a honestidade quando levou todos os porcos que o compadre tinha, como que se estivesse os comprando, mas não lhe deu o dinheiro referente aos animais adquiridos.
→ Essa é uma questão de interpretação de texto, para respondê-la você deverá ler o poema com bastante atenção e reler se preciso for. Não passe para a próxima estrofe antes de entender o que acabou de ler e atente-se aos detalhes e informações nas entrelinhas.
Espero ter ajudado!
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