Os pequenos malabaristas Paro no semáforo. Um garoto muito desajeitado entra na frente do carro. Começa a agitar dois pedaços de madeira. Gira um, gira outro. Derruba no chão. Pega e volta a tentar o malabarismo. Vem a luz verde. Ele corre na minha janela. Quando entrego uma cédula, uma amiga, no banco do passageiro, reclama: – Você não devia ter dado. Na minha opinião, não se trata propriamente de esmola: – Pelo menos, ele está tentando fazer alguma coisa para ganhar dinheiro. Se continuar insistindo, pode vir a ser até um bom malabarista. De fato. Dias atrás, assisti ao desempenho de outro menino, com três bolas, que as jogava, uma atrás da outra. Até gostei. Minha amiga explicou didaticamente. – Existem máfias que exploram esses garotos. Se você der o dinheiro, estará ajudando os bandidos. Já ouvi essa acusação muitas outras vezes. É possível, mais ainda, provável. – Mas, se eu não der o dinheiro, aí que não estarei ajudando coisa nenhuma. Houve uma época em que, mal parava no semáforo, alguém jogava um balde d’água no meu vidro. Depois limpava. Um serviço não pedido que, frequentemente, causava mau humor. Serei franco. Não costumo andar com dinheiro. Moedas boto em um vidro e depois troco todas de uma vez. Por um motivo simples. As moedas pesam no bolso. Minha barriga há tempos está pior que a do Papai Noel. As calças escorregam até embaixo do umbigo. Costumo andar pisando nas barras. Com o peso das moedas, uma ou duas vezes quase fiquei de cuecas na rua. Cada vez que alguém jogava água no meu vidro, eu me sentia na obrigação de avisar que não tinha dinheiro. Recebia de volta um olhar de péssimo humor. Pior, de descrença. Quem passa os dias numa esquina limpando vidros simplesmente não acredita em um motorista que diz estar sem nenhum trocado. Do ponto de vista humano, entretanto, sempre considerei mais correta a atitude de querer fazer alguma coisa para merecer o auxílio. Noite dessas, por exemplo, parei em um viaduto. Um deficiente físico já adulto bateu no meu vidro. Fiz um gesto para indicar que estava sem nada. Ele começou a gritar comigo. Fugi. Os meninos malabaristas sorriem, tentam fazer seu espetáculo. Confio que em breve os pequenos paulistanos também estarão dando verdadeiros shows, embora eventualmente possa haver um ou outro vidro arrebentado após um show de bolas. Já vi, em outras ocasiões, palhaços maquiados, gente fantasiada. Recentemente, deparei com um engolidor de fogo. Fiquei bem apavorado enquanto ele engolia chamas no meio da rua. Um errinho... e até eu poderia estar no meio da fogueira! Enfim, no futuro um folheto turístico da cidade poderá até fazer referência aos números circenses exercidos nos semáforos. Muitas pessoas que conheço compartilham a opinião de minha amiga. Não concordam em pagar pelos shows de semáforos. O discurso é sempre o mesmo, e não posso negar que tenha sua lógica. – Essas crianças não deveriam estar na esquina, mas estudando – explica um conhecido. Concordo. Mas também sou realista. A verdade, só quem sabe, são essas crianças. Talvez o pouco que consigam seja essencial para sua sobrevivência. Certamente, praticar malabarismo é uma alternativa bem melhor que assaltar. Mas não tenho certeza do que é certo ou errado nessa situação. Sou só um sujeito que anda olhando o mundo com perplexidade cada vez maior. Fico confuso. Tenho vontade de ajudar, de pagar meu “ingresso” até pelos números malfeitos. Fico pensando: que mundo é este onde mesmo um gesto de caridade é motivo de dúvida? (Carrasco, Walcyr. Histórias para a sala de aula: crônicas do cotidiano. São Paulo: Moderna, 2015.) 1- Do que se lê no texto, pode-se afirmar que: * 1 ponto os malabaristas podem participar de competições, caso fiquem bons no que fazem os deficientes físicos deveriam também fazer alguma apresentação. é melhor as crianças praticarem malabarismo nos sinais do que roubar. as moedas pesam muito, por isso se deve distribuí-las entre os meninos que ficam nos sinais. não se deve dar dinheiro em nenhuma hipótese, mas apenas alimentos. 2- Marque a alternativa em que haja referência ao parágrafo no qual se descobre a cidade onde se passa a narrativa: * 1 ponto Quinto parágrafo. Nono parágrafo. Décimo parágrafo. Décimo primeiro parágrafo. Décimo quinto parágrafo.
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Sim
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CONFIA
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Resposta:nono parágrafo
Explicação:pq tá no texto
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