Os olhos
Era inverno e eu dormia tranquilo quando os cães começaram a latir. Olhei o despertador e era uma e meia da madrugada. Dei a mim mesmo o tempo de os cachorros pararem, certo de que isso aconteceria logo, mas não: os latidos continuavam, mais e mais – diferentes, assustados. Esperei um tempo e gritei aos cães que parassem, mas eles apenas estancaram por um segundo o barulho, subitamente assustados pelo grito mal-humorado justamente de quem esperava auxílio, e depois recomeçaram sua algaravia1. Gritei ainda outra vez, mas então os dois vira-latas nem interromperam os latidos, frementes em sua agitação estranha. Calcei os chinelos, vesti o roupão e desci as escadas, pronto a resolver logo a situação e voltar à quentura dos cobertores. Seria o latido inútil daquela dupla de cachorros [...], pensei, o galho caído de alguma árvore do pátio, um sapo, algo que se mexesse por qualquer razão. Mas quando abri a porta dos fundos e dali enxerguei o pátio, percebi que não seria assim: no canto, distantes e perdidos no meio da escuridão misteriosa do muro, dois olhos fixos me olhavam. Dois olhos assustados, mas [...] dos quais também emanavam um brilho assustador e único, forte a ponto de assombrar quaisquer contornos: não se podia saber que tipo de bicho era aquele (se era mesmo um bicho), acuado no canto escuro do meu pátio. Dois olhos tão apavorados quanto apavorantes, acuados no pretume da noite e do pátio, e cujo brilho meio esverdeado era a única referência para o latido inabalável dos cães. Olhos que não se mexiam, que pareciam colados no muro de pedra, como se neles não existisse qualquer corpo. Olhos paralisados, que não se mexiam e não me deixavam mexer. Eu me apavorei com aqueles olhos. Os cachorros latiam ainda mais, sem saber por que e até quando. Eu não conseguia chegar perto e nem voltar para dentro de casa, apavorado que estava com aquele brilho inaguentável2. Ninguém se movia: os olhos em seu canto, acuados como se fosse aquela a sua última noite; os cães latindo e latindo sem avançar um centímetro; e eu, à soleira da porta, paralisado pela força portentosa daqueles olhos cuja fúria não aparecia, mas estava ali. Passei a pensar nas horas, enquanto tudo o que conseguia fazer era agarrar-me à porta: uma e meia da madrugada. Aquela seria uma noite muito longa. *Vocabulário: 1algaravia: linguagem confusa, incompreensível; confusão de vozes. 2inaguentável: que não pode aguentar; insuportável. SCHNEIDER, Henrique. Disponível em: . Acesso em: 25 maio 2016. Fragmento.
O que motivou essa história?
O narrador descobrir que tinha uma criatura no canto escuro do pátio.
O narrador gritar para que os cachorros parassem de latir.
Os cachorros começarem a latir no meio da madrugada.
Os cachorros se assustarem com o grito mal-humorado do narrador.
Soluções para a tarefa
Resposta:
Os cachorros começarem a latir no meio da madrugada.
Explicação:
a propia historia começa com os cachorros latindo
A partir da interpretação do trecho da história, podemos notar que o fato que motivou a trama da narrativa foi o fato dos cachorros começarem a latir, algo que acordou o narrador (item C).
Podemos identificar que, durante uma noite geladíssima de inverno, os cães do autor do texto não paravam de latir.
Portanto, o autor ficou bastante incomodado com aquela situação. Ele começou a tentar chamar a atenção dos cães, para que parassem de latir.
Porém, apenas os gritos do narrador não foram o suficiente.
Então, ele resolveu descer, e para a sua surpresa, o que ele acabou encontrando não foi algo fácil de resolver ou lidar.
Ele encarou dois olhos veres que não o desgrudavam de jeito nenhum, a ponto de o narrador não consegui identificar o que era. Foi uma noite difícil.
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