Os momentos passam, as pessoas se vão, a vida muda, o progresso aumenta, e de minha tão amada época só ficaram lembranças. Minha casa era pequena, um berço de humildade, construída com madeira lascada de pinheiro, não existia energia elétrica, tínhamos apenas um lampião de querosene. Éramos pobres, mas vivíamos num lar feliz, apesar das dificuldades em até conseguir o que comer.
No quintal havia um paiol onde guardávamos o pilão, feito de um tronco de madeira maciça escavada, onde socávamos amendoim para fazer paçoca. Tinha também o monjolo d’água e a jorna, que usávamos para fazer farinha e quirera.
Sempre após as chuvas minha mãe ia plantar na horta. Eu a acompanhava, levando a enxada, para ajudar a capinar. O cheiro de terra molhada e o azul do céu se misturavam com as cores dos ipês, despertando magia, e formavam uma aquarela de fantasia, que tomava minha mente e fazia de mim um pássaro, um menino livre, pronto para realizar meus sonhos.
Mal via a hora de chegar o domingo, reunir meus amigos, esquecer do mundo e brincar.Nossas brincadeiras eram simples, porém muito divertidas. Brincávamos de trilha, búlica, esconde-esconde, pular corda, lenço atrás, peteca feita com pena de galinha e palha de milho, bocha com bola feita de tronco de varaneira e carrinhos feitos de tabuinhas.
Às vezes meu pai e minha mãe iam passear à casa de meus avós. Eu e meus irmãos íamos junto. A viagem durava o dia inteiro, o percurso era longo, a estrada, cercada por uma bela mata ainda pura. Quando a escuridão já tomava seu lugar, chegávamos. A lua clareava o céu, meu pai fazia uma fogueira no meio do terreiro, eu e meus irmãos puxávamos uns bancos e sentávamos todos em volta da fogueira, observando as estrelas e escutando as piadas, prosas e causos contados por meu avô.
Quando alguém adoecia, minha avó preparava seus chás; se não estivessem fazendo efeito, meu pai calçava alpargatas e esporas, colocava os arreios no cavalo, e saía a galopar em busca de curandeiros ou benzedeiras. Para ir mais rápido, ele e seu tordilho iam pelos carreiros do meio da mata, percorriam longos caminhos até chegar ao destino.
Em meio a tantas dificuldades, até hoje moro na cidade de Santa Maria do Oeste, as barreiras aos poucos foram sendo enfrentadas e, com muita luta, vencidas.
De minha juventude, recordo-me bem; jogava truco e pife nos torneios. Nos bailes, chimangos e quermesses podiam se ver todos os rapazes e as mocinhas embalados pelo vaneirão e fandango. Eu tocava gaita, sanfona, fazia chorar a viola, fazia gemer o fole da cordeona. Minha felicidade era ver a animação do povo, cantando, dançando, divertindo-se.
Hoje minha alegria é sentar no banco da varanda e tomar meu chimarrão. O vento assovia e traz a saudade que me faz lembrar de minha querência, de minhas raízes, de minha religião.
Lembranças que estavam adormecidas aos poucos vão despertando e renascendo em mim como em um filme. A magia se mistura com a saudade e por um instante sinto como se ainda fosse criança. Mas eis que um forte impulso me puxa. É a realidade que me avisa: “O passado não vai voltar”. Vejo então que toda essa fantasia é fruto da imensa saudade que teima em me perseguir.
E, como dizia uma velha música, “meu chapéu é de palha, meu chicote é de couro. Sim, sou caipira filho de canarinho, neto de sabiá”. Guardo essas minhas histórias em minha memória dentro de meu coração, pois espero que nossa cultura não morra e que se renove de geração para geração. Coisa rara em meio a tantas evoluções. Só desejo que o progresso não mate nossos sentimentos, nem domine nossos corações.
9- Relacione o penultimo parágrafo com título.
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Cadê o titulo ????????????????????????????
kauanbritodesousa681:
como nos velhos tempos
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