Português, perguntado por Map325, 10 meses atrás

Os medos na vida começam cedo, e desde criancinha a gente passa a vida com eles, sendo que o primeiro de todos é ser abandonado pelos pais, claro; se a mãe sai por cinco minutinhos para ir à padaria, ou se veste à noite toda bonita, perfumada e aos sorrisos para ir a uma festa, e deixa a filha sozinha em frente à televisão, o medo é de que ela não volte nunca mais.
Mas essa criança cresce e responde à altura, quando começa a viajar nos fins de semana e passa a noite nas discotecas, deixando a mãe -- aquela mesma mãe -- sem dormir, com o coração na boca e todos os medos da vida, a saber: de ela estar bebendo ou se drogando em más companhias; que esteja num motel, correndo o risco de uma gravidez ou de pegar AIDS; que seja assaltada, estuprada, que o carro bata na volta para casa e que ela se machuque, ou coisa pior. Medo de que o telefone toque de madrugada, o que é sempre apavorante.
Depois de ter um filho, alguma mãe dorme em paz uma só noite na vida? Mesmo que estejam todos juntos no sítio, ele no sofá ao lado tirando um cochilo depois do almoço, ela pensa na estrada -- afinal, ele tem mania de correr, e o pneu pode furar; e a reunião em São Paulo na segunda-feira, ele não podia ir de trem? Basta o avião que vai tomar para fazer aquela viagem tão desejada nas férias. Ai, o avião; os únicos seres vivos que ainda pensam que esse é um meio de transporte perigoso são as mães, que só sossegam quando os filhos chegam ao seu destino e telefonam. Mas tem a volta, e todas gostariam de fazer uma sonoterapia para não sofrer durante as 12 horas de voo que vai durar a viagem. Outras, mais radicais, prefeririam que eles ficassem por lá para sempre, só para não correrem o risco da volta. E alguém lá precisa voar e conhecer novos países?
Mães são trágicas, e se um filho está resfriado elas pensam que é o sintoma de uma doença grave e incurável; se dizem que vão usar óculos elas acham que é o princípio da cegueira; se torcem o tornozelo jogando uma pelada, temem pela amputação da perna, e se nunca se queixam da saúde é porque alguma coisa de muito grave está acontecendo e que eles não querem contar para poupá-las.
Ah, as mães. Todas as grandes tragédias gregas devem ter sido escritas por elas (com pseudônimo), pois nenhum ser humano teria imaginação para tanto, a não ser uma mãe. Para elas nenhum homem -- ou mulher -- está à altura de seus filhos, e do que gostariam mesmo, no fundo de seu desvairado coração, é que sua filha se casasse com seu filho (isto é, o próprio irmão), que morassem todos na mesma casa e que, de preferência, ninguém saísse nem para trabalhar, para não correr o risco de ser assaltado ou atropelado. Elas não dizem, mas no fundo é disso que gostariam.
Frequentemente elas falam mal dos filhos, mas ai de quem disser que a cor da camiseta que ele está usando não é a mais bonita do mundo: ela voa na carótida da maldita. As mães, quando estão com os filhos, não precisam de mais ninguém nem de nada, e se eles ao menos soubessem o que uma palavra de carinho pode fazer por elas -- só que eles nem imaginam.
Outro dia uma dessas mães fez uma viagem de uma semana, e quando chegou o filho telefonou e disse, todo alegre: "Que bom que você voltou, é tão bom ter uma mãe para quem se possa telefonar".
Talvez ele nem se lembre de ter dito essa frase, e nem imagine o que foi para ela ouvir isso.
E se ela -- tão moderna -- tivesse coragem de contar, ele ia saber que com essas palavras fez, dela, a mais feliz das criaturas.


a) Transcreva do texto uma passagem em que se perceba ironia:
b) Copie da crônica um trecho que demonstre ternura:
c)Justifique o título empregado na crônica
d)Copie do texto um trecho carregado de exagero, explicando seu raciocínio:
e) Localize no texto uma expressão usada no sentido conotativo, justificando sua escolha

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Respondido por sandraanjosgarcia
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