Os europeus fazem uso social da religiosidade dentro do seu próprio contexto
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Ao falarmos de África é bom ter presente que estamos falando de grupos
populacionais ou étnicos diferentes, com características sócio‐culturais próprias e com suas
próprias línguas, artes e costumes. Também no campo da organização social,
fundamentalmente no que diz respeito à organização familiar, refletida nos diferentes
sistemas de parentesco, a diversidade é marcante.
Algumas destas características e diferenças alteraram‐se ao longo do tempo; outras
mantiveram‐se, garantindo assim uma certa continuidade; outras ainda desapareceram ou
vão sendo substituídas dentro de uma descontinuidade ligada às dinâmicas impostas pelas
condições sócio‐econômicas, as migrações, as guerras, as mudanças históricas e outros
eventos que se deram ao longo dos séculos.
Apesar das características semelhantes que possam existir entre os povos africanos
fica difícil para o estudioso abarcar, na sua totalidade, a realidade africana.
Dada esta complexidade e diversidade, são quase inexistentes os estudos sobre a
maioria dos grupos populacionais. No tempo colonial houve um certo interesse em
aprofundar os estudos etnográficos e, apesar de estes serem realizados, a partir dos
interesses e da perspectiva do colonizador, não deixaram de existir análises equilibradas e
corretas da realidade sócio‐cultural.
A ausência de documentos dificulta a pesquisa e ao mesmo tempo nos leva a estar
continuamente em contato com os mais velhos, os sábios, para poder apreender algo
diretamente da tradição oral.
Tendo presente toda esta complexidade falaremos sobre 'Tradição' em África a partir
da nossa experiência pessoal, daquilo que aprendi a contato com anciãos e anciãs
moçambicanos procurando assim ser o mais fiel possível a arte da transmissão oral ainda tão
importante para os povos africanos.
Privilegiamos os anciãos porque é através deles e com eles que podemos acolher o
que ainda resta da sua cultura e resgatar a VIDA numa sociedade onde a MORTE, o homem
máquina e objeto da sociedade constituiram a tônica e o modelo de uma geração, dando
lugar ao vazio ético e cultural, ao ponto de se negar o valor sagrado da VIDA.1
Ao resgatarmos alguns aspectos da Tradição quereremos contribuir também para
salvaguardar os valores comuns a todos os grupos étnicos africanos pelos quais eles clamam
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