Question

Orelha Furada 

Pipo, doze anos, não mais que de repente declara que quer furar a orelha para colocar um brinco. À inevitável pergunta sobre o porquê dessa súbita vontade, Pipo só não responde “porque sim”, porque hoje em dia qualquer criança sabe que “porque sim” não é a resposta. Nem os próprios pais podem mais dizer que um pedido, muito menos uma ordem, é “porque sim” – e ainda bem, diga-se de passagem. Então, a resposta foi, “porque acho bonito, porque as meninas gostam, porque vários colegas da turma da escola usam brinco e os pais não reclamam!” 

Os pais de Pipo bem que tentam persuadi-lo, com uma série de argumentos, a desistir da ideia – numa boa, já que “é proibido proibir”, não é mesmo? E diante da firme decisão, para não dizer teimosia do primogênito, os pais acabam entregando os pontos. 

Pipo exulta e se pavoneia diante do irmão menor, cinco anos mais novo, Benjinha. – Viu? Viu? – e convida – Vamos juntos, você aproveita e fura sua orelha também! Mas o Benjinha não está nem aí para a semelhante demonstração de vaidade: – Não vou junto coisa nenhuma, não quero furara orelha nenhuma. 

– Venha, faça-me companhia – insiste Pipo -, vamos furar a orelha juntos. Mamãe compra um brinco bacana para você. 

Mas se Pipo é obstinado, o Benjinha não o é menos: – Não estou a fim de brinco nenhum, não quero e não vou. –Você está é com medo de furar a orelha! – provoca o Pipo. – Não estou com medo, só não quero usar brinco. – Você não me engana, você está com medo. Esse diálogo se prolonga um pouco. O Pipo continua provocando e repetindo que o Benjinha está com medo, até que este cede pouco: 

– Está bem, eu vou junto, mas é só por companhia – Mas o seu medo não é de ir junto, é de furar a orelha! – Não estou com medo, eu já disse! Finalmente a mãe resolve o problema: – Chega de bate-boca, vamos logo para a farmácia furar as orelhas. – As orelhas não, só a orelha do Pipo – reafirma Benjinha. E lá vão os três para a farmácia, onde o farmacêutico, velho amigo – farmacêutico mesmo, não balconista –, rapidamente prepara o necessário para a operação. Num instante, ele desinfeta o lóbulo da orelha do Pipo, fura o dito-cujo e já coloca um brinquinho de ouro, provisório, para garantir a cicatrização sem perder o furinho. 

Pipo só fez uma careta, a coisa não foi tão ruim assim. – Agora é a sua vez, Benjinha, sente aqui – provoca o Pipo. – Não vou sentar, eu já disse que não quero usar brinco, não preciso furar a orelha. – Está vendo, doutor Paulo – diz o Pipo ao farmacêutico -, o meu irmãozinho é um medroso. – Não sou medroso, só não quero furar a orelha – protesta Benjinha. 
– Então mostre que não é medroso, prove! Benjinha perde a paciência: – Deixe-me em paz! – mas acrescenta, numa súbita decisão. – Sabe duma coisa, doutor Paulo? Fure a minha orelha! E senta-se na cadeira, resoluto. A mamãe intervém, com pena do filhote: – Você não precisa, se quiser. – Mas agora eu quero. – É só o que eu quero ver – diz o Pipo. O farmacêutico prepara a “segunda sessão” e, minutos depois, a orelha de Benjinha está furada, sem sequer uma careta.
– Pronto, agora é só colocar o brinco provisório – diz o farmacêutico. Mas o Benjinha levanta da cadeira. – Eu já disse que não quero usar brinco nenhum. Deixei furar só pra mostrar que não tenho medo. O Pipo que ande por aí de brinco, eu não preciso. E Benjinha dá o assunto por encerrado.

Reflita sobre o texto e responda:

1. O narrador conta um fato do cotidiano de uma família e emite opiniões sobre os acontecimentos
narrados. Qual a opinião do narrador sobre a mudança de postura dos pais?

2. Inicialmente, os pais do garoto não são favoráveis à ideia de Pipo colocar um brinco, mas acabam por
aceita-la, mesmo a contragosto. Que frase do texto justifica essa afirmação?


3. O narrador do texto “Orelha furada” é uma personagem da história? Qual o tipo de narrador empregado
no texto? Justifique sua resposta.

4. Explique, resumidamente, o que acontece em cada uma das partes que compõem o conto:
a) Situação inicial
b) Conflito
c) Clímax
d) Desfecho
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Answer 1

Resposta:

cara esse texto me deixou malucão nem li tudo