Olhando a atual situação do Brasil, qual deve ser a tarefa do filósofo??
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Resposta:
Explicação:
A tarefa prática da filosofia política em John Rawls
Álvaro de Vita
Professor de Ciência Política na Universidade de São Paulo e editor-assistente de Lua Nova
Haveria alguma base sólida para a suposição de que as principais questões políticas de hoje em geral têm respostas corretas? A obra de John Rawls, em particular sua Uma Teoria da Justiça1, pode ser considerada a mais importante tentativa, na teoria moral e na filosofia política de expressão em língua inglesa deste século, de responder a essa pergunta. Como procurarei mostrar a seguir, Rawls acredita que pelo menos algumas das questões políticas controversas do mundo contemporâneo, se não são passíveis de verdade, podem ter respostas razoáveis.
Na tradição política ocidental, existem três grandes reinos de considerações morais que permitem julgar o que é objetivamente válido em relação a ações, escolhas públicas, instituições e estados de coisas: (1) a crença em uma ordem de direitos vistos como fundamentais (no sentido de que sua realização é assegurada, ou deveria ser, pelas instituições de uma sociedade) e absolutos (no sentido de que considerações baseadas em direitos não podem, ou não deveriam, ser sobrepujadas, quaisquer que sejam as circunstâncias, por considerações de outro tipo); (2) a "maximização" do bem-estar - identificado à utilidade, à felicidade ou à realização de desejos - de todos ou do maior número (utilitarismo); e (3) a promoção de atividades intrinsecamente valiosas (a concepção do que é bom para o homem que se encontra por exemplo, no ideal grego de vida virtuosa e que se exprime na revivescência, na filosofia moral contemporânea, da ética da virtude).
Marx, Weber, Mackie - e Rawls - concordariam entre si em pelo menos um ponto: não há fatos morais. Adotando-se uma linha marxista de argumentação, se diria que não há como saber até que ponto nossas idéias morais são algo mais do que meras crenças ideológicas - conseqiientemente, e em particular em situações de conflito agudo entre interesses e necessidades de diferentes grupos da sociedade, não há como apelar à "reflexão moral adequada" para determinar o certo e o errado;12 devido ao que chamava de "guerra inexplicável entre os deuses do Olimpo" (isto é, o conflito irredutível de valores), Max Weber viu a razão encarcerada na razão instrumental - e, portanto, capaz de determinar a escolha de meios eficazes mas não a correção de escolhas práticas; Mackie não vê motivo para que se considere as crenças morais como algo mais do que "demandas sociais".
A META-ÉTICA DE RAWLS: UMA TEORIA ORIENTADA POR IDEAIS
Estamos agora em condições de apreciar a especificidade do empreendimento ralwsiano. Do ponto de vista de seus princípios de segunda ordem, ou meta-éticos, a concepção de justiça como equidade procura um "ponto arquimediano", distinto do intuicionismo racional e, evidentemente, ainda mais distante do relativismo moral, a partir do qual seja possível derivar princípios primeiros de justiça que possam ser aceitos por todos os cidadãos de uma sociedade democrática. Rawls recusa o intuicionismo racional tanto porque considera que não há fatos morais quanto pela concepção de pessoa adotada por essa modalidade de reflexão moral: as pessoas são vistas não como agentes e sim como meras conhecedoras de uma ordem moral prévia. Em contraste com isso, Rawls nega que aquilo que deva contar como moralmente relevante possa ser suposto como existente; consequentemente, um padrão moral que assegure direitos inalienáveis aos indivíduos só poderá surgir de um procedimento de construção13.