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Oh! Grandes e gravíssimos perigos,
Oh! Caminho de vida nunca certo,
Que, aonde a gente põe sua esperança,
Tenha a vida tão pouca segurança!
No mar, tanta tormenta e tanto dano,
Tantas vezes a morte apercebida;
Na terra, tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade aborrecida!
Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que não se arme e se indigne o céu sereno
Contra um bicho da terra tão pequeno?
Terremoto
Rubem Braga
Houve pânico em algumas cidades do Norte desse Meio-Norte que fica ao sul das grandes províncias do Norte Grande, e que os chilenos chamam de Norte Chico. A terra tremeu com força e em vários pontos o mar arremeteu contra ela, avançando duzentos, trezentos metros, espatifando barcos contra o cais e bramindo com estrondo. O povo saiu para as praças e passou a noite ao relento; algumas construções desabaram, mas o único homem que morreu foi de susto.
Lamentamos esse morto e também os pobres pescadores que perderam seus barcos; mas qualquer enchente carioca dá mais prejuízo e vítimas. Mas louvemos o maremoto e o terremoto pelo que eles têm de fundamentalmente pânico, pela sua cega, dramática, purificadora intervenção na vida cotidiana, pela sua lição de humanidade e de fatalidade. Talvez seja bom que os homens não se sintam muito seguros sobre a terra, e que o proprietário de imóvel possa desconfiar de que ele não é tão imóvel assim; que há diabos loucos no fundo do chão e que eles podem promover terríveis anarquias. A natureza tem outros meios de advertência, como o raio e a tromba d’água; mas são demônios do céu que nos atacam. E o homem é fundamentalmente um bicho da terra, é na terra que ele se abriga e confia; apenas se move no céu e na água, na terra está seu porto e seu pouso. Ele pisa a terra com uma soberba inconsciente, seguro dela e de si mesmo; só o terremoto consegue lembrar-lhe de maneira fundamental sua condição precária e vã e o faz sentir-se sem base e sem abrigo.
Não sei que influência tem o terremoto sobre o caráter chileno; sei que muitos poderosos de nossa terra ficariam mais simpáticos e propensos à filosofia se o nosso bom Atlântico fizesse uma excursão até Barata Ribeiro e o velho Pão de Açúcar desmoralizasse um slogan de propaganda comercial dando alguns estremeções nervosos.
Houve um tempo em que Deus bastava para tornar humilde um poderoso; hoje seus pesadelos são apenas o comunismo, o enfarte e o câncer, mas ele já se acostumou a pensar que essas coisas só acontecem aos outros. O terremoto ameaça a terra com seus bens, e a própria vida; sua ocorrência só pode tornar as pessoas mais amantes da vida e mais conscientes de sua espantosa fragilidade. E isso faz bem.
Rubem Braga. Ai de ti, Copacabana. Rio de Janeiro: Record, 1996. p. 18.
Os dois textos desenvolvem temas semelhantes.
a) Qual é esse tema?
b) Qual a principal diferença entre os dois textos no desenvolvimento desse tema?
Soluções para a tarefa
Resposta:
a) Ambos falam da fragilidade do ser humano diante da natureza.
b) O poema de Camões fala da fragilidade e da insegurança do homem em todos os lugares e em todos os elementos: na terra e no mar. Rubem Braga também fala da mesma fragilidade, mas afirma que o homem, por soberba, se sente seguro na terra.
Explicação: Plurall
Sobre os textos em análise, podemos afirmar:
- a) Os dois textos abordam o tema da fragilidade da vida, em que o ser humano, de forma inconsciente, considera-se fortalecido por estar em terra firme, mas que pode, a qualquer movimento da natureza, se tornar vulnerável.
- b) No poema, observamos que o eu lírico trata tanto a fragilidade quanto a insegurança do homem sob múltiplas perspectivas, da força da natureza às guerras, das ameaças por doenças às reprimendas celestes.
- Na crônica, o autor aborda a vulnerabilidade do homem a partir da ação da natureza, em terremotos e maremotos, assim como por meio da capacidade humana de se sentir seguro em terra, mesmo que seja uma falsa sensação de segurança.
Poesia e crônica
A poesia e a crônica são gêneros textuais em que o autor pode desenvolver uma opinião a partir da visão do mundo que o cerca. Ainda que por meio de diferentes elementos, o primeiro em versos e o segundo, por meio da prosa, ambos estabelecem a capacidade de reflexão sobre temas ligados à vida, à insegurança do ser humano diante dos perigos que o cercam.
Com isso, são formas linguístico-literárias que promovem uma relação de intimidade com o leitor, que pode se envolver com o que está sendo tratado de maneira positiva ou negativa.
Saiba mais sobre gêneros de texto em:
https://brainly.com.br/tarefa/20554803
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