"O verdadeiro fundador da sociedade civil, o primeiro que, tendo
cercado um terreno, lembrou-se de dizer 'Isto é meu' e encontrou pes
soas suficientemente simples para acreditá-lo. Quantos crimes, querras,
assassinios, misérias e horrores não pouparia ao gênero humano aquele
que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado aos
seus semelhantes: 'Defendei-vos de ouvir esse impostor; estareis per
didos se esquecerdes que os frutos são de todos e a terra não pertence
a ninguém!". Grande é a possibilidade, porém, de que as coisas ja então
1 tivessem chegado ao ponto de não poder mais permanecer como eram,
pois essa ideia de propriedade, dependendo muito de idelas anteriores
que só puderam nascer sucessivamente, não se formou repentina
mente no espirito humano. Foi preciso fazer-se muitos progressos,
adquirir-se muita indústria e luzes, transmiti-las e aumentá-las
de geração em geração, antes de chegar a esse último termo do
estado de natureza, ...)
O primeiro sentimento do homem foi o de sua existência, sua
primeira preocupação a de sua conservação. As produções da terra
forneciam-lhe todos os socorros necessários; o instinto levou-o
a utilizar-se deles. [...]
..] desde o instante que um homem sentiu necessidade do socorro
de outro, desde que se percebeu ser útil a um só contar com provisões
para dois, desapareceu a igualdade, introduziu-se a propriedade, o
trabalho tornou-se necessário e as vastas florestas se transformaram
em campos apraziveis que se impôs regar com o suor dos homens e
nos quais logo se viu a escravidão e a miséria germinarem e crescerem
com os colheitas. [...]
... os mais fortes realizavam mais trabalho, o mais habilidoso tirava
mals partido do seu, o mais engenhoso encontrava meios para abre-
vior a faina (trabalho, o lavrador sentia mais necessidade de ferro,
ou o ferreiro mais necessidade de trigo e trabalhando igualmente, um
ganhava muito, enquanto outro tinha dificuldade de viver. Assim que
a desigualdade natural insensivelmente se desenvolve junto com a de-
sigualdade de combinação, e as diferenças dos homens, desenvolvidas
pelos das circunstancias, se tornam mais sensíveis, mais permanentes
em seus efeitos e começam a influir na sorte dos particulares."
"27. Ainda que a terra e todas as criaturas inferiores pertencam
em comum a todos os homens, cada um guarda a propriedade de sun
própria pessoa; sobre esta ninguém tem qualquer direito, exceto ela
Podemos dizer que o trabalho de seu corpo e a obra produzida por suas
mãos são propriedade sua. Sempre que ele tira um objeto do estado
em que a natureza o colocou e deixou, mistura nisso o seu trabalho
e a isso acrescenta algo que lhe pertence, por isso o tornando suo
propriedade. [...] Sendo este trabalho uma propriedade inquestionável
do trabalhador, nenhum homem, exceto ele, pode ter o direito ao que
o trabalho lhe acrescentou, pelo menos quando o que resta é suficiente
aos outros, em quantidade e em qualidade.
28. Aquele que se alimentou com bolotas que colheu sob um carva
lho, ou das maçãs que retirou das árvores na Floresta, certamente se
apropriou delas para sil Ninguém pode negar que a alimentação é sua
[...] Será que alguém pode dizer que ele não tem direito àquelas bolatas
do carvalho ou aquelas maçãs de que se apropriou porque não tinha
o consentimento de toda a humanidade para agir dessa forma? ...
Se tal consentimento fosse necessário, o homem teria morrido de fome,
apesar da abundância que Deus lhe proporcionou. Sobre as terras co
muns que assim permanecem por convenção, vemos que o fato gerador
do direito de propriedade, sem o qual essas terras não servem para nada,
é o ato de tomar uma parte qualquer dos bens e retirá-la do estado em
que a natureza a deixou. E este ato de tomar esta ou aquela parte não
depende do consentimento expresso de todos. [...]
31. Talvez surja uma objeção que [...] qualquer um pode tomar tudo
para si, se esta for a sua vontade. A isto eu respondo que não é bem assim
A mesma lei da natureza que nos concede dessa maneira a propriedade
também lhe impõe limites. [...] Tudo o que um homem pode utilizar de
maneira a retirar uma vantagem qualquer para sua existência sem des
perdício, eis o que seu trabalho pode fixar como sua propriedade. Tudo o
que excede a este limite é mais que a sua parte e pertence aos outros."
1. Quem é o "impostor" a que se refere o texto
de Rousseau? Explique o ponto de vista desse
filósofo.
2. Segundo Rousseau, em que momento da
história da humanidade a desigualdade teria
surgido? Que atividades econômicas foram
responsáveis por isso?
3. Explique por que Rousseau criticava a exis-
tência da propriedade privada.
4. Para Locke, quando algo se torna uma pro-
priedade privada? Que argumentos ele utiliza
para defender suas ideias?
5. Locke afirma que haveria limites para que
um indivíduo não tomasse posse de tudo.
Que limite é esse?
6. Quais são as diferenças entre o pensamento
de Rousseau e de Locke em relação à proprie-
dade privada?
Soluções para a tarefa
Respondido por
0
se vira aí namoral tamanho disso menor
mariceliamariasantos:
nossa skskksksksksskskkssksk
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