História, perguntado por Usuário anônimo, 11 meses atrás

O tema da oposição armada a ditadura é eivado de complexidade e intensos debates. Existe tendência a condenação generalizada, sustentada pelo argumento do pouco apego a democracia e a existência de proposta de luta armada na esquerda que são anteriores ao golpe. Ocorre uma crítica a ideia de que a luta armada teria se constituído numa resistência a ditadura. Nesse sentido, apresente argumentos, sustentados no texto de referência, que se contrapõe a essa interpretação.

Anexos:

Soluções para a tarefa

Respondido por JVNader
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Apesar de uma parte do meio acadêmico defender a ideia de que a "resistência armada" da esquerda é anacrônica devido ao fato dos próprios movimentos revolucionários começarem a ocorrer antes de 64 (como os movimentos de Prestes na década de 30), Demian Bezerra sustenta uma ideia que, hoje, começa a ser defendida pela maior parte do meio acadêmico e pela esquerda política.

É apontado o fato de que o argumento de "ausência de apego ao democrático" é insustentável devido ao período político vigente: duas ditaduras em 30 anos, golpes e contra-golpes durante as décadas que separam o Estado Varguista do Regime Militar e a noção geral de normalização do golpe. Conforme aponta o sociólogo Marcelo Ridenti:

"É um anacronismo analisar aquele passado com base numa ideia de democracia estabelecida posteriormente e consolidada no presente (cujos limites os futuros historiadores também apontarão). Outro anacronismo é ressaltar a discussão da democracia em detrimento do tema que mais mobilizava a sociedade no início dos anos 60, a “revolução brasileira”, hoje tão esquecida, mas que na época tinha tal legitimidade que os golpistas logo apelidaram seu movimento de “revolução de 1964”

Logo, percebe-se que o termo Revolução era normativa da época, sendo o "apego democrático" inexistente para qualquer lado. Apesar dos movimentos revolucionários de Esquerda, não se deve esquecer o golpe de Lott em 55 e o Levante de Jacareacanga, de 56.

Além disso, a organização de grupos armados, independente de seus finais objetivos, possuíam como base de modus operandi a resistência e insubordinação ao grupo dominante politicamente. Logo, se seus objetivos eram instaurar uma revolução, esta apoiada por Cuba e pela KGB, necessitava-se primeiro resistir à opressão e à perseguição política do Governo Militar.

Ainda se destaca a referência ao termo Resistência nos diversos documentos da Esquerda Armada da década de 60, inclusive no próprio livro de Carlos Marighella, dissidente do PCB, fundador do ALN e, junto de Leonel Brizola, uma das figuras de maior destaque na questão da luta armada brasileira.

Em Manual do Guerrilheiro Urbano (Marighella, Carlos, 1969) se lê:

"O guerrilheiro urbano é um homem que luta contra uma ditadura militar com armas, utilizando métodos não convencionais. Um revolucionário político e um patriota ardente, ele é um lutador pela libertação de seu país, um amigo de sua gente e da liberdade."

E ainda:

"Cada camarada que se opõe a ditadura militar e deseja resistir fazendo alguma coisa, mesmo pequena que a tarefa possa parecer."

De toda forma, o revisionismo a respeito da luta armada ainda é tema polêmico por secionar os acadêmicos e não gerar opinião consensual. Além de tudo, é frequentemente revisto e interpretado de maneiras e ópticas diferentes, variando sempre em relação a opinião política do defensor da tese e dos documentos a sua disposição, ademais do período do próprio acadêmico.


Usuário anônimo: Obrigado, amigo
JVNader: De nada. ksksksksk
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