O ser humano existe enquanto pensa. Quando deixa de pensar, deixa de existir. Alguns sofistas andaram ensinando que o homem deixa de pensar quando deixa de existir. Mas o homem não pensa porque existe, mas existe porque pode pensar. No dia em que deixar de pensar, foge-lhe a existência. Pelo menos a existência como ser humano, pois não se pode dizer que um demente tenha uma existência de ser humano. O homem pode pensar bem ou pensar mal, pensar pouco ou pensar muito. Não há, porém, uma diferença qualitativa, mas há apenas uma diferença quantitativa no exercício do pensamento de cada pessoa. Pois, sendo um atributo essencial do homem, todos exercem com esse atributo uma função qualitativa igual. Assim como o olho do homem é feito para ver todas as coisas, também a mente é feita para pensar todas as coisas, assim também uns pensam menos coisas do que os outros. Mas a qualidade de ver é a mesma em todas as pessoas, embora varie de uma para a outra a quantidade da coisa vista. Ai dos homens que não usam, em toda a sua plenitude, o direito e o atributo de pensar! Se um pássaro em pleno voo parasse subitamente de usar suas asas, o poder de voar que lhe foi dado, o atributo do equilibrar-se no ar e viajar as distâncias etéreas, cairia miseravelmente no chão. Se um homem para de pensar, por preguiça ou por estultícia, todos os desastres lhe podem acontecer. Se seu pensamento não responde ao que veem seus olhos, pode jogar-se no fogo e na água, e perecer queimado ou afogado. Na vida na cidade, se um homem neutraliza dentro de si o direito de pensar, a cidade pode ser tomada e dominada pela ferocidade de um tirano, cujo despotismo levará o povo à morte pela fome, pela crueldade ou por outras formas de injustiça e prepotência. E se não o povo todo, pelo menos uma parte do povo, certamente, será arrastada à opressão, à tortura, ao cárcere ou a qualquer outra forma de perdição. Os tiranos não gostam que as pessoas pensem. Fazem um grande esforço para que o pensamento seja deformado, isto é, perca a sua forma original, isto é, a forma que lhe dá cada um, tentando estabelecer uma espécie de fábrica de pensamento pela própria mente e passem a pensar pela mente do despotismo dominador. Isto aconteceu algumas vezes na Grécia. Mas sempre que o povo se dispõe a exercer com todo vigor o seu direito e o seu atributo de pensar, os tiranos foram destronados, levados ao ostracismo e os despotismos derrubados. Teócrito de Corinto tem seu nome inscrito entre os neoplatônicos do século II de nossa era, presumivelmente. Faz parte do grupo de 32 seguidores do pensamento socrático, cuja existência nunca foi plenamente confirmada e cuja obra foi recolhida em fragmentos por Gerhard Wolfius, na famosa seleção de "apócrifos" da filosofia grega, semelhante à coleção de Evangelhos apócrifos guardados, sobretudo pela Igreja ortodoxa. O termo apócrifo é empregado, no caso, em seu verdadeiro sentido, isto é, de autoria desconhecida. O texto que hoje publicamos é da rara coletânea de Wolfius. "O Pensamento Apócrifo da Grécia". 1. Encontre no texto, e descreva, a ideia que corrobora a frase de Schopenhauer: “O intelecto não é uma grandeza extensiva, mas intensiva: sendo assim, um único indivíduo pode tranquilamente opor-se a dez mil, e uma assembleia de mil imbecis não faz um único homem inteligente”. 2. Estabeleça vínculo entre o thaumazein (espanto, admiração, perplexidade) e a atividade de pensar. 3. Segundo o texto “não se pode dizer que um demente tenha uma existência de ser humano”. Você concorda com essa afirmação? Por quê? 4. Qual o trecho do texto que faz referência indireta à “Política do Pão e Circo” da Roma antiga? 5. Como podemos usar o texto de Teócrito para ilustrar o Mito da Caverna de platão.
Soluções para a tarefa
Olá,
1) No início no texto fala-se que todos os homens possuem a capacidade de pensar, mas pobre do homem que não a utilize em toda a sua potência. Ou seja, quando o homem não é capaz de refletir e de usar todas as suas capacidades, será sempre derrotado por aquele que o fizer.
2) O pensar é livre a todos os homens, e quando esse pensar não é utilizado, surge o espaço necessário para um tirano. Em grupos de pessoas que detestam a filosofia e o pensar, basicamente, qualquer um que pense causará, ou espanto, ou perplexidade e admiração.
3) É uma afirmação que pode parecer preconceituosa, mas não é. Podemos concordar em grande parte porque alguém que tem problemas no cérebro e doenças psíquicas não poderá ser capaz de exercer tudo o que sua mente poderia lhe proporcionar, a compreensão e as alegrias, mas ele não deixou de ser humano por isso, apenas não pode, infelizmente, usar toda sua capacidade mental.
4) O trecho que faz referência é "se um homem neutraliza dentro de si o direito de pensar, a cidade pode ser tomada e dominada pela ferocidade de um tirano".
5) Podemos usar o texto de Teócrito para ilustrar o Mito da Caverna de Platão partindo da ideia que quando pensamos, saímos de uma caverna, a caverna da ignorância.
Abraços!