O que você acha do Fernando Henrique Cardoso?
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Em um nível superficial e pessoal, eu gosto do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC). Ele é originário do meio universitário e é um sociólogo reconhecido internacionalmente. Eu normalmente gosto de intelectuais porque me identifico em determinado grau com todos, até mesmo com aqueles que eu detesto por razões diversas. O tipo de identificação que tive com ele jamais tive com o ex-presidente Lula, o qual sempre tive um grau relativamente alto de antipatia.
Politicamente falando, eu era muito novo quando FHC foi eleito presidente. Eu não entendia porque minha mãe o detestava — ela é funcionária pública e foi do Partido dos Trabalhadores até 2005, o ano do Mensalão Petista — e eu estranhamente simpatizava com o velho com cara de intelectual que volta e meia aparecia na televisão. Nunca gostei de muitos outros membros do governo FHC — vice presidente Marco Maia, Ministro da Saúde José Serra, Senador Antônio Carlos Magalhães, etc — mas contra o ex-presidente FHC, o então Ministro da Fazenda, Pedro Malan, e o Presidente do Banco Central (BC), Armínio Fraga, nunca senti nada de negativo. Talvez na minha ingenuidade infantil realmente acreditasse no intento da equipe econômica de estabilizar o Brasil durante o período turbulento da crise asiática, o desacoplamento do Real e do Dólar, a seca no Nordeste e o Apagão. Minha opinião política sobre FHC e seu governo, entretanto, mudou e tomou forma após 2013, quando o Brasil começou a ter convulsões políticas.
Eu acho que o governo FHC teve seus méritos e suas falhas. Manter a inflação sobre controle foi uma medida importantíssima, mas manter a paridade R$ 1.00 igual a US$ 1.00 por tanto tempo foi um erro estratégico terrível que custou as reservas de moedas estrangeiras e a estabilidade econômica por alguns anos. Felizmente isso foi consertado com a criação do tripé macroeconômico do então presidente do BC Armínio Fraga: câmbio flutuante, superávits fiscais e regime de metas de inflação.
Outra política que eu considero laudável é a privatização de empresas do governo. Eu já mencionei inúmeras vezes no Quora que não acredito que o governo deva assumir tantas atribuições: no fim das contas não se faz nada decentemente porque o governo não tem especialização nenhuma. Os critérios de escolha para empregos no governo e em empresas governamentais não cobrem as habilidades que um funcionário de empresa ou indústria precisam ter o que costuma gerar uma força de trabalho sub-ótima. Eu sei que é uma opinião extremamente impopular, mas, por mim, privatizava-se tudo que não fosse justiça, defesa, saúde e educação. A privatização dos bancos estaduais, particularmente, foi um dos maiores sucessos, na minha opinião, pois não há razão de governos estaduais terem um banco próprio. Os bancos estaduais frequentemente eram usados em esquemas de corrupção quando não geravam uma pressão inflacionária violenta por conta de empréstimos a governos estaduais. O que eu desaprovei no processo de privatização no governo FHC foi a forma dos leilões que me pareceu feita para privilegiar uns e excluir outros. Porque não ofereceram uma parcela maior de ações para o público geral?
O que eu vejo como o legado mais terrível do governo FHC foi a emenda constitucional que permitiu a reeleição. Além das denúncias de corrupção no processo que levou a sua aprovação, a reeleição tornou o sistema eleitoral Brasileiro muito mais sujeito a populismo e complicou o processo natural de troca de lideranças. Outro legado praticamente hediondo foi a escolha de Gilmar Mendes para o STF.
Também importante lembrar que não foi um governo impoluto. Houve o escândalo do Banestado, um esquema de corrupção que ocorreu durante o governo tucano de FHC e que pode ter desviado até R$30 bilhões. Um jornalista da Carta Capital fala em US$134 bi desviados nesse escândalo, mas eu suspeito que seja fake news porque esse valor corresponderia a mais de 10% do PIB do país na ocasião; um valor absurdo de ser roubado sem levantar suspeitas. Além disso, apesar das condenações que o juiz Sério Moro conferiu a muitos dos participantes do escândalo, todos foram inocentados em instâncias superiores. Uma das coisas importantes das investigações do escândalo do Banestado, entretanto, foi a experiência dada à PF e ao judiciário que permitiu investigar e punir agentes investigados pela operação Lava-Jato dos dias de hoje.
Por fim, eu reconheço os méritos e os defeitos do governo FHC, mas também sei das minhas limitações devido à minha tenra idade naquela época.
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