O que sustenta a globalização?
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Dois vernáculos que nada tem de similaridade ou de causa e consequência. A globalização é um processo de expansão da atividade produtiva além das suas terras de origem, é um processo que invade outros territórios, enquanto que a sustentabilidade é um conceito que envolve responsabilidade e zelo e que se apresenta na atividade produtiva, porém, com ritmo e ações coadunando com o ritmo de reposição da natureza.
As atividades industriais sustentam-se na égide filosófica de Platão de que a natureza está para servir o homem, e sobre a égide da propriedade. Estas duas combinações sustentaram e justificaram muitas, ou quase todas, as ações explorativas do homem na busca insaciável do poder.
Não é científico afirmar que esta necessidade de poder é algo inato do homem. Não é científico porque homem e poder não são variáveis que se podem relacionar diretamente, mas apenas por evidências. Também não é importante aqui discutir a natureza humana, mas apenas e simplesmente fazer uso de exemplos da história.
O homem sempre afirmou-se como um “ser superior”, alguns considerando-se representante de Deus na terra, outros então, naturalmente “donos” da terra, eram os casos dos representantes da igreja e os reis. Estas pessoas eram poderosas e, por suas crenças de que efetivamente eram “propriétários”, podiam apropriar-se de tudo o que consideravam seu, inclusive de pessoas. Também faziam uso de seu poder para viver intensamente uma vida de orgias, acasalamento, mandos e desmandos.
Na natureza humana, talvez por questões culturais, a necessidade de apresentar poder é muito forte, e a tradução deste envolve explicitamente a posse e uso de bens. Este senso de propriedade persiste até os dias atuais e está refletido, principalmente, na acumulação de riqueza, em outros termos, acumulação de patrimônio, entendendo-se neste contexto os imóveis, dinheiro e outros capitais e, para obtê-los, o homem criou mecanismos associativos e de trabalho humano.
Todavia, um homem sozinho não consegue trabalhar em sua vida o tempo suficiente para acumular muita riqueza, então passou a fazer uso de recursos de terceiros e, por este entende-se bens da natureza, capital e humanos que , por sua vez, são aplicados em atividades produtivas que, ao final do processo, formam produtos que serão desejados por alguém, o qual irá pagar o valor por ele considerado “justo”.
Neste valor existe uma parcela de lucro e este fica então, com o seu criador, capitalizando-o, onde, após repetidas vezes, multiplicará seu patrimônio. A partir do agrupamento de várias pessoas com esta mesma concepção e atividade originou-se um sistema hoje conhecido por “sistema capitalista”. Não sendo suficiente mais as suas terras, ou por que tem que dividi-la com muitos, ou porque os recursos ficaram “caros” devido à demanda, ou porque estes recursos esgotaram-se, estas interveniências afetaram a lucratividade, assim, estas organizações passaram a fazer uso de novas terras onde os recursos não estão totalmente explorados e ainda encontram-se não inflacionados pela demanda. Este processo recebe o nome de globalização. Devido ao senso de “propriedade” que se apresenta muito fortemente na cultura das sociedades do ocidente, o processo de globalização é tipicamente ocidental.
Bem, o que isto tem a ver com a sustentabilidade? Nada! Não é bem assim, se a atividade industrial deseja manter sua continuidade, então precisa preocupar-se com o esgotamento dos recursos. Se nas terras ocidentais de origem os recursos já se esvaíram, então nas novas terras eles também irão esvair-se, é só questão de tempo. E depois, o que acontecerá?
Para que o sistema produtivo não entre em colapso, há necessidade de preocupar-se com este problema e de forma muito séria. Inicialmente precisa-se classificar “sustentabilidade” neste texto, entende-se esta por constituir-se de um conjunto de atividades de produção que fazem uso direto dos recursos naturais, capital e humano. Não se está utilizando o conceito de “sustentabilidade econômica” neste texto, por exemplo, pois esta refere-se à obtenção de lucro por uma organização para que esta possa capitalizar-se e manter sua continuidade.
Entende-se “sustentabilidade” como sendo a utilização dos recursos naturais no mesmo nível de reposição destes pela natureza. Assim, vê-se imediatamente que é difícil mudar um sistema produtivo construído sob a égide filosófica de que a natureza serve o homem. Para que o conceito de “sustentabilidade” possa realmente prevalecer, muito há o que mudar, o qual deverá ocorrer primeiro no homem para depois serem aplicados nas atividades realizadas pelo próprio homem. Muitos aspectos culturais deverão ser revisados e mudados, talvez até o foco de uma sociedade deverá mudar.
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