) O que significa “Fuga de Cérebros” no contexto Indiano.
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Durante décadas, cientistas indianos optaram por deixar seu país em busca de melhores oportunidades de trabalho. Esse movimento, conhecido como fuga de cérebros, começa a ser revertido frente ao desenvolvimento industrial e a determinação política do governo indiano de atrair de volta seus pesquisadores.
Estudos do Banco Mundial(Bird) mostram que, em 2000, quase 1 milhão de indianos com ensino superior trabalhavam em mais de 30 países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O principal destino dessas pessoas era os Estados Unidos – entre outubro de 1999 e fevereiro de 2000, o Serviço de Imigração e Naturalização dos EUA registrou a entrada de 34 mil indianos.
Nos últimos anos, porém, essa situação está se invertendo. Segundo o economista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Márcio Pochmann, desde os anos 1980, a Índia combina política educacional e tecnológica, o que permitiu ao país uma inserção qualificada na economia mundial. A atenção que a Índia recebeu no último Fórum Econômico Mundial, em Davos, é um reconhecimento de seu desempenho."Só é possível inverter esse êxodo com medidas conjuntas, que criem condições materiais para que os pesquisadores retornem e possam desenvolver suas pesquisas, e a Índia está trabalhando nisso", afirma.
Segundo Pochmann, o aumento da produção de bens de alto valor agregado foi fundamental para a economia indiana florescer, uma vez que "produtos com maior conteúdo tecnológico demandam trabalhadores qualificados". O desenvolvimento da indústria de software é um exemplo do caminho traçado pela Índia – o setor de informática criou 400 mil empregos em 2002, segundo o Banco Mundial. Hoje, empresas indianas são responsáveis por parte dos programas de computadores usados no mundo e os fabricantes não são somente filiais de transnacionais: algumas empresas são de capital 100% indiano.
COMÉRCIO INTERNACIONAL Outro fator que ajudou a inserção não só da Índia, mas também de outros países "emergentes" como a China e o próprio Brasil, é a forma como o comércio mundial está organizado, que permite uma produção descentralizada, "a divisão internacional do trabalho possibilita a produção em diferentes espaços geográficos", diz Pochmann. "Assim, países que não dispõem de capital elevado, mas têm mão-de-obra qualificada, conseguem se inserir mundialmente. No caso da Índia, falar inglês ajuda muito também", diz o economista.
A pesquisadora indiana Anna Lee Saxenian, no artigo "The bangalore boom: a from brain drain to brain circulation?", salienta que muitos cientistas, ao retornar à Índia, trazem todo o know-how adquirido no exterior. O que é muito bom para as empresas locais, não só no aspecto da produção científica e tecnológica, mas também porque incorpora concepções de administração e negociação. Até o termo brain drain, de conotação negativa, foi substituído nas avaliações indianas pelo termo brain circulation, que inclui essa idéia da aquisição de know-how.
Para o coordenador do Laboratório de Políticas Públicas da Uerj, Emir Sader, porém, é preciso ficar atento para expansão industrial baseada na atração de empresas grandes, que criem emprego desvinculado da economia interna do país. Os pesquisadores voltariam atraídos pelo novo cenário sem que isso signifique economia forte. "Se outro país der condições melhores, as empresas mudam e geram desemprego". O fortalecimento do mercado interno nos países "emergentes" seria, assim, a melhor forma de sair desse ciclo".