O que representa as “tomadas” no cinema?
Soluções para a tarefa
tomada ou plano é a palavra; a cena ou seqüência é a frase, a sentença, a oração; a disposição das tomadas em sua ordem correta – a montagem – é a gramática e a sintaxe.”
Essa definição pode ser de grande ajuda para a compreensão de alguns dos principais termos da linguagem cinematográfica; ela é citada pelo inglês Ivor Montagu, que fez de quase tudo no cinema e trabalhou com Alfred Hitchcock e Serguei M. Eisenstein. Há quem não goste da analogia com a linguagem, com as palavras: “Esqueça, de uma vez por todas, as comparações do cinema com a literatura. Isto é mau para o cinema – como, aliás, para a literatura”, diz o francês Franz Weyergans. “O plano é um fragmento do tempo dispendido, é um pedaço da realidade em movimento que nos é proposto”, define.
Ele tem lá sua razão – mas a velha definição citada por Montagu de fato ajuda bastante.
Como a palavra é a menor divisão de um texto, a tomada (do inglês take) ou plano é a menor divisão de um filme; é o que a câmara grava entre o grito do diretor “E ação!” e o grito de “Corta!” Não há quem não tenha visto filmes em que essas coisas aparecem – Luzes, Câmera… e Ação!, e depois o E Corta! O plano, ou tomada, é isto: é o que acontece enquanto a câmara está rolando, captando a imagem, sem corte.
(Um parênteses, um pequeno detalhe: a rigor, a rigor, a palavra não é a menor divisão de um texto, certo? A menor divisão mesmo seria a sílaba, ou o fonema, ou a letra. OK. Para prosseguir na analogia, a sílaba, ou o fonema, ou a letra, seria, no cinema, o quadro, ou frame, em inglês; no início do cinema, na era dos filmes mudos, os projetores passavam 18 quadros por segundo, para resultar no movimento; depois do advento do som, em 1927, a velocidade padrão passou a ser de 24 quadros por segundo – o que resultou na famosa frase de Jean-Luc Godard, “a fotografia é a verdade e o cinema é a verdade 24 quadros por segundo”, e também no fato de que, quando vemos hoje muitos dos filmes mudos, dá aquela impressão de que estamos vendo tudo aceleradinho. De qualquer maneira, o quadro é coisa técnica, pedaço da película, do celulóide – coisa que as câmaras e projetores da era digital já até abandonaram. Por isso, a rigor, permanece válida a definição de que um plano, não importa quantos quadros ele abranja, é a menor unidade de um filme.)
Um conjunto de planos forma uma cena, ou seqüencia. Uma seqüência que mostra um diálogo de duas pessoas, um homem e uma mulher, por exemplo, pode ser formada por várias tomadas: uma tomada da mulher falando; uma tomada do homem ouvindo; uma tomada do homem respondendo; uma tomada da mulher ouvindo; uma tomada em que aparecem os dois juntos, e assim por diante. Ou a mesma seqüência pode ser formada por apenas duas ou três tomadas mais longas. O ritmo vai depender do que o autor quiser dizer.
A arte de unir tomadas para formar uma seqüência, e depois unir todas as seqüências do filme, é a montagem, do francêsmontage. Nos países de língua inglesa usa-se o verbo edit, o substantivo editing, ou editor para a pessoa que faz a montagem.
Como editing é basicamente a ação de cortar e juntar – cutting and joining, como diz Montagu -, a palavra cutting, ou cut, passou a ser muito usada, mais recentemente, para substituir a expressão editing. Volta e meia são lançados DVDs com o Director’s Cut – ou seja, a montagem final feita pelo ou sob supervisão direta do próprio diretor do filme, e não pelos produtores, pelo estúdio; ou seja, o filme com o corte final, portanto a versão final, do diretor.