História, perguntado por teteu2901, 11 meses atrás

O que os xintoístas buscam no ritual do misogi?​

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Curiosamente, o xintoísmo não tem fundador conhecido, nem uma Bíblia. O “xintoísmo é uma religião de uma série de ‘não tem’”, explica Shouichi Saeki, estudioso do xintoísmo. “Não tem doutrinas definidas e não tem teologia detalhada. Praticamente não tem preceitos a serem observados. . . . Embora tenha sido criado numa família que tradicionalmente segue o xintoísmo, não me lembro de ter recebido uma significativa educação religiosa.” (Os grifos são nossos.) Para os xintoístas, as doutrinas, os preceitos e, às vezes, até mesmo o que eles adoram não são importantes. “Até mesmo no mesmo santuário”, diz certo pesquisador xintoísta, “o deus cultuado não raro era trocado por outro e, às vezes, pessoas que adoravam esses deuses e ofereciam orações a eles não percebiam a troca”.

O que, então, é de importância vital para os xintoístas? “Originalmente”, diz certo livro sobre a cultura japonesa, o “xintoísmo considerava os atos que promoviam a harmonia e a subsistência duma pequena comunidade como ‘bons’, e os que impediam isso como ‘ruins’”. A harmonia com os deuses, com a natureza e com a comunidade era considerada de valor superlativo. Tudo que rompesse a pacífica harmonia da comunidade era ruim, independente de seu valor moral.

Visto que o xintoísmo não tem doutrinas ou ensinos formais, a sua maneira de promover a harmonia da comunidade é através de rituais e festividades. “O mais importante no xintoísmo”, explica a enciclopédia Nihon Shukyo Jiten, “é se celebramos ou não as festividades”. Festejar juntos em festividades em torno de deuses ancestrais contribuía para um espírito de cooperação entre as pessoas na comunidade cultivadora de arroz. As principais festividades eram, e ainda são, relacionadas com o cultivo do arroz. Na primavera, os aldeões pedem ao “deus dos arrozais” que desça a seu vilarejo e oram por uma boa safra. No outono, agradecem a seus deuses pela colheita. Durante as festividades, eles carregam seus deuses num mikoshi, ou santuário portátil, e têm comunhão de vinho de arroz (saquê) e alimento com os deuses.

Para estar em união com os deuses, contudo, os xintoístas crêem que devem ser limpos e purificados de toda sua impureza moral e de seus pecados. É aqui que entram os rituais. Há duas maneiras de purificar uma pessoa ou um objeto. Uma é oharai e a outra misogi. Na oharai, o sacerdote xintoísta agita um ramo da sempre-verde sakaki com papel ou linho amarrado na ponta, para purificar um item ou uma pessoa, ao passo que na misogi usa-se água. Estes rituais de purificação são tão vitais para a religião xintoísta que certo versado japonês diz: “Pode-se seguramente dizer que sem esses rituais o xintoísmo não pode subsistir [como religião].”

Xintoísmo — Uma Religião de Festividades

O calendário japonês está repleto de festividades religiosas, ou matsuri. As seguintes são algumas das principais:

▪ Sho-gatsu, ou Festividade do Ano-Novo, 1-3 de janeiro.

▪ Setsubun, lançam-se grãos de soja dentro e fora das casas, bradando: “Saiam os demônios, entre a boa sorte”; 3 de fevereiro.

▪ Hina Matsuri, ou Festividade das Bonecas, para meninas, em 3 de março. Faz-se uma exposição de bonecas, retratando uma antiga família imperial.

▪ Festividade dos Meninos, em 5 de maio; Koi-nobori (representações de carpas simbolizando a força) presas a postes tremulam ao vento.

▪ Tsukimi, admira-se a lua cheia de meados do outono, enquanto se oferece bolinhos de arroz e primícias de colheitas.

▪ Kanname-sai, ou a oferta de primícias do arroz pelo imperador, em outubro.

▪ Niiname-sai é celebrada pela família imperial em novembro, quando o imperador, que preside como sumo sacerdote do xintoísmo imperial, prova as primícias do arroz.

▪ Shichi-go-san, que significa “sete-cinco-três”, celebrada por famílias xintoístas em 15 de novembro. Sete, cinco e três são encarados como importantes anos de transição; crianças trajando coloridos quimonos visitam o santuário da família.

▪ Celebram-se também muitas festividades budistas, incluindo o natalício de Buda, em 8 de abril, e a Festividade de Obon, em 15 de julho, que termina com lanternas postas a flutuar no mar ou em rios “para guiar os espíritos ancestrais de volta ao outro mundo”.

Relatos de alguns rituais do Xintoísmo:

“Sendo meu pai um sacerdote xintoísta, fomos ensinados a oferecer um copo de água e uma tigela de arroz cozido no kamidana [santuário doméstico xintoísta] todas as manhãs antes do desjejum. Depois desse ato de adoração, recolhíamos a tigela de arroz e comíamos dela. Fazendo isso, eu achava que os deuses nos protegeriam.

“Ao comprarmos uma casa, confirmamos cuidadosamente a auspiciosa localização da nova casa em relação à antiga por consultar um xamã, ou médium espírita. Ele nos alertou contra três portões de demônios e instruiu-nos a seguir o proceder de purificação que meu pai prescrevera. Assim, nós purificávamos aqueles pontos com sal uma vez por mês.” — Mayumi T.

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