o que o Brasil fez na década passada para melhorar a distruibuição de renda entre seus habitantes
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Resposta:
oi
Explicação:
O dramaturgo e jornalista Nelson Rodrigues, em suas memoráveis crônicas futebolísticas, referiu-se inúmeras vezes ao complexo de inferioridade do brasileiro em relação às outras nacionalidades, particularmente aos naturais de países europeus. Segundo ele, o brasileiro sofria de "complexo de vira-latas", ou era um "narciso às avessas", posto que cuspia em sua própria imagem. Na sua opinião, o complexo de vira-latas só deixou de existir ¾ ao menos no universo do futebol ¾ após a nossa primeira conquista de uma Copa do Mundo, na Suécia, em 1958.
De fato, Nelson Rodrigues chamou a atenção para algo que constitui parte de nossa identidade nacional: a concepção de que o outro é melhor, de que o europeu ou o americano desenvolvidos são superiores1. Assim, ao contrário de inúmeras nações onde os habitantes locais dão primazia aos produtos nacionais, os brasileiros preferem os produtos importados, muitas vezes independentemente de sua qualidade, na suposição de que ser importado é por si só garantia da superioridade do produto. Este talvez não seja o melhor exemplo, uma vez que se pode mostrar que a crença na superioridade dos produtos do Primeiro Mundo tem fortes bases empíricas. Contudo, como argumentar quando é o futebol que está sob julgamento? Todos devem recordar-se, a cada Copa do Mundo, dos debates que, invariavelmente, resultam na conclusão de que o futebol brasileiro deve adotar os esquemas táticos e o estilo dos europeus. Esta conclusão não possui base empírica. É possível relacionar um sem-número de estatísticas que mostram que o futebol brasileiro esteve sempre à frente das melhores escolas de futebol da Europa, em termos de títulos e conquistas.
O sentimento difuso de inferioridade existente na sociedade muitas vezes se expressa em estudos sobre o Brasil. Um dos exemplos mais conhecidos é o da literatura que sustenta que a política brasileira entre 1946 e 1964 se caracterizou pelo populismo2. Segundo esta literatura, o populismo é um pacto político que em nada se assemelha aos pactos europeus, porque na Europa de fato houve luta de classes e os trabalhadores se diferenciavam, em termos de interesses, organizações etc., dos setores dominantes. Enquanto no Brasil os trabalhadores teriam sido manipulados pelas classes dominantes e líderes populistas, nos países europeus eles teriam atuado na política de forma autônoma. A literatura sobre o populismo leva-nos a concluir que os trabalhadores brasileiros, quando emergiram como atores políticos relevantes, foram politicamente inferiores se comparados aos seus congêneres da Europa3.
As análises que afirmam que o Brasil experimentou o populismo se enquadram naquilo que Lívia Barbosa (1998) denominou de exocentrismo. Em oposição ao etnocentrismo, o exocentrismo caracteriza-se pela percepção do que somos por meio de categorias e valores externos. Assim, as análises de muitos intelectuais sobre o Brasil são marcadas por nossas faltas e carências. "Falta-nos tudo: desenvolvimento, uma burguesia progressista, uma classe operária consciente, uma cultura não-colonizada, um sistema político menos anacrônico, educação, cidadania e modernidade" (idem:2).
A lista de carências poderia ser facilmente ampliada.
Há, assim, no Brasil uma mentalidade de que somos peculiares, e para pior. Os outros países melhoraram e continuam melhorando, o Brasil anda para os lados ou para trás. Afinal, "isto aqui não tem jeito". A noção de que vivemos em um país que não anda para a frente está relacionada com o ícone do Brasil como "país do futuro". Somos do futuro porque não somos do presente; o melhor está por vir e ao mesmo tempo nunca chega. Esta mentalidade não exige base empírica, é uma representação que fazemos de nós, é algo que compõe a nossa identidade nacional, como dito acima. Este artigo busca, explorando muitas mudanças ocorridas neste século no Brasil, não só mostrar que o "complexo de vira-latas" não encontra fundamento nas nossas estatísticas sociais e econômicas básicas, como revelar que o Brasil deixou de ser o país do futuro4. O Brasil não apenas mudou na direção certa, como se encontra bastante próximo dos países do Primeiro Mundo no que se refere a vários indicadores.
Não se pode afirmar que um complexo de inferioridade dessa natureza contamine a literatura acadêmica recente. Todavia, há vários exemplos de diagnósticos catastrofistas e pessimistas sobre o país, que muitas vezes são possíveis porque a mudança para melhor não é percebida, ou quando o é não chega a ser valorizada. Vale ressaltar, porém, que análises pessimistas não são específicas ao que é produzido no Brasil.