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Resposta:
era assistente da grande arqueóloga francesa Annete Emperaire, que procurava vestígios do homem mais antigo das Américas. Annete já havia estado na Patagônia e, em solo brasileiro, seu maior interesse era a região de Lagoa Santa, nos arredores de Belo Horizonte, onde se acreditava estarem os resquícios mais antigos de ocupação humana em terras nacionais. “Detesto essa pesquisa para ver quem é o mais antigo. Gosto do Piauí por causa das pinturas (rupestres), que são muito bonitas”, disse então Niède a Annete. “Preparo tudo para você ir a Lagoa Santa, mas vou para o Piauí.” Foi e nunca mais saiu da região de São Raimundo Nonato, no sudeste do estado. Para sua surpresa, além de incontáveis manifestações de arte pré-histórica em mais de mil sítios arqueológicos descobertos, deparou – que ironia – justamente com o que dizia tanto odiar: indícios de presença humana no Nordeste muito mais antigos do que jamais alguém esperaria achar.
Segundo Niède, o material arqueológico resgatado até agora no Piauí – alvo de controvérsias entre os estudiosos – indica que o homem chegou à região há cerca de 100 mil anos. A pesquisadora acredita que o Homo sapiens deve ter vindo da África por via oceânica, atravessando o Atlântico. Houve uma grande seca na África e o homem teria ido para o mar procurar comida. Tempestades o empurraram oceano adentro. “O mar estava então 140 metros abaixo do nível de hoje, a distância entre a África e a América era muito menor e havia muito mais ilhas”, disse Niède, hoje com 75 anos, na palestra que fez no dia 11 de maio no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, para a programação cultural da exposição científica Revolução genômica. As teses de Niède se chocam com a arqueologia mais tradicional, dominada pela visão dos norte-americanos, que situam a chegada do homem nas Américas há cerca de 13 mil anos, vindo da Ásia via estreito de Bering.
Em sua apresentação, Niède fez um resumo dos 36 anos dos trabalhos científicos e de preservação cultural e ambiental desenvolvidos no Parque Nacional Serra da Capivara, criado em 1979 e considerado patrimônio cultural da humanidade pela Unesco. Começou falando da localização geográfica do parque, que compreende uma área de 129 mil hectares administrada pela Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham), entidade criada (em 1986) e presidida até hoje por Niède. O parque é vizinho de outro, de nome auto-explicativo, que fica à sua direita, o Parque Nacional da Serra das Confusões, com área de 516 mil hectares. “Na realidade, sempre quisemos que a serra da Capivara e a serra das Confusões formassem um só parque”, afirmou. A idéia não vingou devido à cobiça de políticos e grandes empresários que conseguiram doações, desmataram uma parte da região e separaram os dois parques, segundo a arqueóloga.
Antes de assentamentos de sem-terra terem tomado o entorno do Parque Nacional Serra da Capivara, havia um corredor natural que permitia a passagem de animais de um parque a outro. Mais úmida do que a serra da Capivara, a serra das Confusões atraía os bichos na época de seca. Os animais migravam e, com a volta da estação das águas, retornavam à serra da Capivara. “Até brincávamos que os animais recebiam um telegrama avisando que choveu na Capivara”, comentou Niède. Com o desmembramento total dos dois parques, as movimentações da fauna local se tornaram complicadas e perigosas. “Se saem do parque (serra da Capivara), os animais morrem”, sentenciou. Para matar a sede dos bichos na estiagem, a Fumdham fez uma série de reservatórios para captar água da chuva. Até comida foi necessário dar aos bichos nos 2 últimos anos de seca mais acentuada. “Estamos em negociação com o governo federal para ver a possibilidade de estabelecer um corredor entre os dois parques”, disse.
Entre dois biomas
A chuva, que faz o verde brotar numa paisagem normalmente associada a tons de marrom, é de suma importância para o equilíbrio da serra da Capivara, dominada por vegetação de caatinga. “Já passei até 6 anos sem ver chuva”, contou a arqueóloga. “Acho temerário fazer assentamento de sem-terra, que quer plantar comida, num local onde pode ficar tanto tempo sem chover.” Niède não é contra os sem-terra, que vivem em casas minúsculas, sem reboque, rodeadas de lixo, ?favelas na zona rural? nas palavras da arqueóloga. Apenas acha que eles deveriam se dedicar a plantar flores ornamentais e certos tipos de cactos, que têm alto valor comercial no mercado, em vez de desmatar para cultivar alimentos. A arqueóloga explicou que a região, dona de belos cânions, é uma fronteira entre duas formações geológicas brasileiras, um planalto do permiano-devoniano e a planície do São Francisco, que é do pré-cambriano. “Nossas pesquisas demonstraram que, há 10 ou 9 mil anos, nessa região se dava o contato entre dois biomas: a Floresta Amazônica e a Mata Atlântica”, explicou. “Até hoje, nas regiões mais protegidas do parque, mais úmidas, temos espécies animais e vegetais desses dois biomas.”