O que José Gervasio Artigas fez
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Herói nacional do Uruguai, José Gervasio Artigas criou uma nação no meio de guerras intermináveis no início do século 19. e plantou a semente do país mais liberal da América Latina
Texto José Francisco Botelho | Ilustrações Bruno Algarve | 10/01/2014 16h58
No outono de 1820, um general derrotado cavalgava pelos campos da região de Misiones, às margens do Rio Uruguai, nos confins meridionais da América do Sul. Os únicos sobreviventes de suas forças eram doze guerreiros maltrapilhos. O líder tinha olhos esverdeados, rosto sisudo, bronzeado pelo sol, e cerca de 50 anos de idade. Pouco a pouco, aquelas feições foram reconhecidas pelos índios que viviam acampados aqui e ali, entre montes e matagais. A pé e a cavalo, eles começaram a se aproximar: beijavam sua mão e pediam sua bênção. Em seguida, sem perguntas, iam apanhar lanças e flechas, abandonavam suas cabanas e passavam a seguir em silêncio o guerreiro taciturno. Em oito dias, o general tinha um novo exército com 800 homens. E voltou à interminável sequência de guerras em que vivera durante os últimos dez anos. Seu nome era José Gervasio Artigas - ou don José, ou o Grande Cacique, ou apenas "mi General", como era chamado por seus multiétnicos seguidores.
Pouco conhecido no Brasil, Artigas foi um dos personagens mais enigmáticos na história de nossos vizinhos. Figura central nas lutas pela independência da América, ele é considerado o herói nacional do Uruguai - e um dos poucos mitos latino-americanos que mantêm a boa fama, quase 200 anos após sua morte.