O que foi a "Neurópolis", de Lívio Tragtenberg? *
Soluções para a tarefa
Resposta:
Nada a ver com "neurose", segundo Livio. São os "nervos da cidade", invisíveis de fora, mas que fazem o corpo funcionar. No projeto análogo que ele criou recentemente em Miami, a expressão ganha acento levemente diverso: Nervous City Orchestra. De qualquer modo, são duas orquestras nervosas de cidades neuróticas.
A música não é uma coisa nem outra. Seu princípio básico é o choque: diferenças justapostas simultânea ou sucessivamente. É a vida na metrópole, onde critérios de gosto também não têm maior vigência, fora de cada grupo. Música esquizofônica. Acolhe imagens de mundo e vai se deixando levar por um ou outro caminho.
Em vários casos, o resultado é estranhamente contundente, num registro pós-tropicalista que também atualiza, a seu modo, as militâncias da vanguarda heróica da nossa música de concerto. Se tudo corre sempre o grande risco de descambar no pitoresco, isso faz parte da aventura; e o risco foi assumido com consciência. A maior parte desses músicos não exibe nem pretende exibir especial perícia. Pedem para ser ouvidos de outro modo, mensageiros do inconsciente musical coletivo.
Ninguém, então, escuta um disco desses para se embevecer. Mas é um disco que deixa cismado e deixa nervoso. Não é pouca coisa, na batalha eterna contra a pasmaceira.