o que foi a crise de 22?
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A década de 1920 é uma das mais importantes do ponto de vista da história
econômica, política e cultural brasileira, e mesmo mundial. E um período de transição, de
grande efervescência, que tem paralelos interessantes com o que acontece hoje. Minha
intervenção aqui se centrará, contudo, no ano de 1922, momento em que talvez se tenha
chegado mais perto de uma ruptura, exceção feita evidentemente para o final da década,
quando a ruptura realmente ocorreu. Talvez eu focalize mais a árvore e perca um pouco da
floresta da década de 20, mas como o desafio daqueles anos foi uma espécie de tentativa de
resolver a ressaca da crise econômica de 1921-1922, 22 é um bom começo.
Mil novecentos e vinte e dois é um ano de profunda crise econômica, só comparável
na experiência republicana anterior à gigantesca crise da década de 1890, que só acabou com
o enorme esforço de ajustamento do período Campos Sales sob a tutela financeira britânica.
Tem-se em 22 uma crise do café, uma inflação em alta e, especialmente, uma crise fiscal. É o
final do governo Epitácio Pessoa, que no entanto havia começado com uma grande esperança
de prosperidade, com grande otimismo, depois de anos de guerra, apreensões e dificuldades -
de certa maneira, o fim do governo Epitácio parece muito com o fim do governo Sarney.
É desse clima de crise do Estado que surge ou que é renovado, como também se pode
interpretar, o acordo Minas - São Paulo que garante a eleição do mineiro Artur Bernardes,
mas dá aos paulistas o controle absoluto da economia, com Sampaio Vidal no Ministério da
Fazenda e Cincinato Braga no Banco do Brasil. Se se quiser recortar um exemplo de acordo
café com leite, não existe nenhum melhor do que este, que solidifica a candidatura Bernardes
contra os ataques violentos dos militares, numa situação de crise fiscal e crise do Estado como
a que marca o final do governo Epitácio. Essa aliança marca também o primeiro compromisso
formal do governo federal com a valorização permanente do café, que será uma bandeira do
governo Bernardes mais à frente. Vinte e dois é portanto um ano de crise, mas de uma crise
que gera uma reação de continuidade do regime, que sacode Minas e São Paulo para uma
aliança formal. Por que afinal 22 foi tão ruim? A partir de que momento o governo Epitácio
degringolou na gestão da economia? Quais as origens da crise?
A crise que começa na segunda metade de 1920, chega ao auge em 1922, mas na
verdade se arrasta até o final do governo Bernardes, é um exemplo de livro-texto de choque
externo adverso, ou seja, daqueles choques que marcam o comportamento de uma economia
primária exportadora muito dependente do preço do seu produto básico. Epitácio Pessoa
assume o governo em ótimas condições em 1919. E um período de alta do preço do café sem
precedentes na memória das pessoas que viveram naquela época. Em 1918 uma imensa geada
havia arrasado os cafezais de São Paulo. Ora, a produtividade logo depois de uma geada é
muito pequena, pois as árvores demoram um tempo para se recuperar. Em 1919, portanto, os
estoques estão baixos. Além disso, há um grande crescimento da demanda nos países centrais
econômica, política e cultural brasileira, e mesmo mundial. E um período de transição, de
grande efervescência, que tem paralelos interessantes com o que acontece hoje. Minha
intervenção aqui se centrará, contudo, no ano de 1922, momento em que talvez se tenha
chegado mais perto de uma ruptura, exceção feita evidentemente para o final da década,
quando a ruptura realmente ocorreu. Talvez eu focalize mais a árvore e perca um pouco da
floresta da década de 20, mas como o desafio daqueles anos foi uma espécie de tentativa de
resolver a ressaca da crise econômica de 1921-1922, 22 é um bom começo.
Mil novecentos e vinte e dois é um ano de profunda crise econômica, só comparável
na experiência republicana anterior à gigantesca crise da década de 1890, que só acabou com
o enorme esforço de ajustamento do período Campos Sales sob a tutela financeira britânica.
Tem-se em 22 uma crise do café, uma inflação em alta e, especialmente, uma crise fiscal. É o
final do governo Epitácio Pessoa, que no entanto havia começado com uma grande esperança
de prosperidade, com grande otimismo, depois de anos de guerra, apreensões e dificuldades -
de certa maneira, o fim do governo Epitácio parece muito com o fim do governo Sarney.
É desse clima de crise do Estado que surge ou que é renovado, como também se pode
interpretar, o acordo Minas - São Paulo que garante a eleição do mineiro Artur Bernardes,
mas dá aos paulistas o controle absoluto da economia, com Sampaio Vidal no Ministério da
Fazenda e Cincinato Braga no Banco do Brasil. Se se quiser recortar um exemplo de acordo
café com leite, não existe nenhum melhor do que este, que solidifica a candidatura Bernardes
contra os ataques violentos dos militares, numa situação de crise fiscal e crise do Estado como
a que marca o final do governo Epitácio. Essa aliança marca também o primeiro compromisso
formal do governo federal com a valorização permanente do café, que será uma bandeira do
governo Bernardes mais à frente. Vinte e dois é portanto um ano de crise, mas de uma crise
que gera uma reação de continuidade do regime, que sacode Minas e São Paulo para uma
aliança formal. Por que afinal 22 foi tão ruim? A partir de que momento o governo Epitácio
degringolou na gestão da economia? Quais as origens da crise?
A crise que começa na segunda metade de 1920, chega ao auge em 1922, mas na
verdade se arrasta até o final do governo Bernardes, é um exemplo de livro-texto de choque
externo adverso, ou seja, daqueles choques que marcam o comportamento de uma economia
primária exportadora muito dependente do preço do seu produto básico. Epitácio Pessoa
assume o governo em ótimas condições em 1919. E um período de alta do preço do café sem
precedentes na memória das pessoas que viveram naquela época. Em 1918 uma imensa geada
havia arrasado os cafezais de São Paulo. Ora, a produtividade logo depois de uma geada é
muito pequena, pois as árvores demoram um tempo para se recuperar. Em 1919, portanto, os
estoques estão baixos. Além disso, há um grande crescimento da demanda nos países centrais
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