O que foi a chamada cartografia do Poder (século XVI - XIX)?
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Resposta:
Os mapas são a reprodução mais antiga do pensamento geográfico. Concebida como ciência da representação gráfica da superfície terrestre, a cartografia vem auxiliando numa maior compreensão visual das relações internacionais. No entanto, não é suficientemente sistematizada como meio através do qual uma classe dominante projeta sua visão de mundo. Em outros termos, a cartografia nunca foi uma ciência neutra, isenta, e sim uma representação adaptada da realidade, que promove relações de poder.
As projeções cartográficas são uma expressão matemática que transformam as coordenadas geográficas, a partir de uma superfície esférica, em coordenadas planas, mantendo correspondência entre elas. Estas projeções são realizadas a partir dos meridianos e paralelos curvos da esfera terrestre em figuras geométricas, como o cilindro, o cone e o plano. Na projeção cilíndrica, os paralelos e meridianos são retos, havendo deformações nas regiões de altas latitudes (polos), com melhor projeção nas regiões perto do Equador; na projeção cônica, os meridianos são retos e convergentes e os paralelos são círculos concêntricos, visualizando-se regiões de latitudes médias; na projeção azimutal, há similitude com a projeção cônica, mas com distorções aumentando a partir do centro, sendo preferidos para representar regiões polares e mapas estratégicos (destaque a um ponto central).
Historicamente, as duas projeções cartográficas mais conhecidas são a de Mercator e a de Peters. Arquitetada no século XVI, a projeção cilíndrica de Mercator foi a mais utilizada por navegantes, uma vez que as direções eram traçadas numa linha reta sobre o mapa. Esta projeção respeita as formas dos continentes, mas não seus tamanhos: áreas extensas ou situadas em latitudes elevadas aparecem com dimensões exageradamente ampliadas. Em contrapartida, a projeção de Peters, datada da década de 1970, trata de uma projeção cilíndrica equivalente, ou seja, preserva as dimensões relativas dos países e continentes. A distorção, portanto, está nas formas, principalmente nas pequenas latitudes, alongando os países e continentes no sentido norte-sul, contudo sendo mais fiel do que a projeção de Mercator no que se refere aos tamanhos dos continentes.
As distorções mencionadas não são apenas questões técnicas, mas obedecem a decisões essencialmente políticas e ideológicas ligadas ao exercício do poder. Assim, a criação de mapas era comumente controlada pelos governos e quase sempre nas mãos de agências ou escritórios pertencentes às forças armadas. Na moderna sociedade ocidental, os mapas rapidamente se tornaram cruciais para a preservação do poder estatal (fronteiras, comércio, administração interna, controle populacional, força militar), ampliado para o setor privado (Google Maps como maior exemplo).