O que é príncipio medieval, enraizado pela tradição cristã?
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Resposta:
Na Idade Média a Filosofia sofrerá uma forte influência da tradição cristã. Os filósofos deste período são, ao mesmo tempo, teólogos, bispos, abades, padres. Ao tentar conciliar fé e razão, a filosofia permanecerá, ao longo de todo período medieval, subordinada à teologia, de tal modo que, neste período, é impossível separar o pensamento filosófico da tradição grega, do pensamento teológico cristão.
Os primeiros filósofos cristãos, ao procurar conciliar fé e razão, procuraram interpretar, de forma racional, aquilo que era justificado pela fé através da revelação. Se somos seres dotados de razão, não poderíamos então utilizar esta mesma razão como instrumento de análise e reflexão sobre os pressupostos fundamentais da fé cristã? É assim que a filosofia se insurge no campo da ética cristã, como tentativa racional de justificar seus princípios e normas de comportamento, submetendo a lei divina revelada ao crivo da razão.
Em um contexto de intensa relação entre filosofia e teologia, a ética cristã assume um lugar de destaque sendo definida por sua relação espiritual e interior com Deus (através da fé) e com o próximo (pela caridade). Além disso, por meio da revelação divina (Antigo e Novo Testamento), Deus manifestou aos homens sua vontade e suas leis, definindo o que é o bem e o mal, felicidade e infelicidade, salvação e castigo. Esta revelação é fundamento para a vida ética do cristão que deve obedecê-la reconhecendo nela a vontade e a lei de Deus, introduzindo assim no campo da moral a ideia do dever. Desta forma, uma conduta será considerada ética ou moral se realizada de acordo com as normas impostas pelo dever e imoral ou antiética, se realizada em contrariedade com tais normas. No cristianismo, o que o Homem seria ou deveria ser definia-se em relação à divindade. A essência da felicidade tornou-se a contemplação de Deus; a ordem sobrenatural passou a ter primazia sobre a natural.
Vale salientar que a moral cristã, ao destacar a interioridade dos seres humanos, introduziu um outro conceito na constituição da moralidade ocidental que é a ideia de intenção. O dever se refere, inclusive, àquilo que pode ser chamado de ações invisíveis (e não apenas visíveis), que devem ser julgadas eticamente. Isto quer dizer que deve ser levado em consideração no julgamento ético não apenas os atos, mas as intenções que nos levaram a praticar determinado ato. E o cristão tem tanto mais razão para levar em consideração suas próprias intenções quanto sabe que mesmo aquilo que é invisível aos olhos humanos, é visível aos olhos de Deus. Nada Lhe está oculto, nem mesmo o que acontece no interior dos homens.
O cristianismo se afirma ainda na ideia do livre-arbítrio, sendo que o primeiro impulso da liberdade dirige-se para o mal (pecado). O homem passa a ser fraco, pecador, dividido entre o bem e o mal. O auxílio para a melhor conduta é a lei divina. Também é possível afirmar que a ética cristã se fundamenta no amor: “ainda que eu fale a língua, dos homens e dos anjos, se eu não tiver amor... eu nada sou”. O amor foi colocado como o primeiro e maior mandamento: o amor a Deus acima de todas as coisas e o amor ao próximo. É no amor que o cristianismo encontra sua realização espiritual mais profunda.
O cristianismo se apresenta muito mais como uma religião, uma sabedoria do que como uma filosofia, mas que pressupõe uma específica concepção do mundo e da vida, pressupõe uma precisa solução do problema filosófico. O cristianismo fornece uma imprescindível integração à filosofia, no tocante à solução do problema do bem e do mal, mediante os dogmas do pecado original e da redenção pela cruz. E, enfim, além de uma justificação histórica e doutrinal da revelação judaico-cristã em geral, o cristianismo implica uma determinação, elucidação, sistematização racional do próprio conteúdo sobrenatural da Revelação, mediante uma disciplina específica, que será a teologia dogmática.
Sob a influência da Igreja, as especulações se concentraram em questões filosófico-teológicas, tentando conciliar a fé e a razão. E é nesse esforço que Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, dois dos maiores expoentes da filosofia cristã, trouxeram à luz reflexões fundamentais para a história do pensamento cristão. Santo Agostinho e Tomás de Aquino foram os principais responsáveis pelo resgate cristão das filosofias de Platão e de Aristóteles, respectivamente. O primeiro é um dos maiores representantes do período da filosofia cristã conhecido como Patrística, e o segundo,da escolastica