O que é "cultura do favor", segundo Sérgio Buarque de Hollanda?
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A desigualdade social na cultura política brasileira, expressa nos verbos dar e pedir implica, pois, no mando e na subserviência.
Retomando alguns autores clássicos da nossa historiografia social para situar aspectos do domínio territorial enquanto provedor da dádiva, Teresa Sales relembra inicialmente Oliveira Vianna, que foi um dos maiores ideólogos no Estado Novo e do pacto populista sob Getúlio Vargas. Para ele, a centralidade do latifúndio na nossa cultura reside, sobretudo, nas marcas de prestígio e poder do senhor rural manifestas no ser servido, obedecido, respeitado por muitos. O homem sem o latifúndio, pobre e fraco, só encontra segurança e tranquilidade sob a função tutelar do fazendeiro local. Assim, por um lado o senhor rural possui um incomensurável poder privado desde a colônia até o advento da República, controlando os aparelhos de justiça, os delegados de polícia e as corporações municipais, mas por outro lado ampara o homem comum diante destes controles por meio do clã rural que chefia.
O latifúndio escravocrata, monocultor e inibidor da divisão social do trabalho, vincula-se assim ao poder privado dos senhores de terra, lastreado sobre a escravidão. Todavia, o poder do senhor de terras se constrói não propriamente sobre os escravos que ele submete à sua vontade e arbítrio, mas sobre a infinidade de agregados, com relações de trabalho e denominações diversas segundo nossas peculiaridades regionais. Esses homens livres buscam a proteção do senhor de terras e chefe do clã contra o poder de outros senhores, na ausência de um poder superior que os discipline, em uma mediação política caracterizada como favor.
Estes agregados vivem uma cidadania que a autora denomina de cidadania concedida, marcada pelo amparo de um caudilho sobre a fraqueza, o desamparo e a pobreza em que se encontram. Essa cidadania concedida está na gênese da construção da nossa cidadania, ou seja, os primeiros direitos civis necessários à liberdade individual foram outorgados ao homem livre, durante e depois da ordem escravocrata, como concessão dos senhores de terra. Há uma radical dependência da população livre do Brasil escravocrata para com os senhores de terra.
Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda trabalharam com outros aspectos da relação de mando e subserviência, o primeiro buscando as tensões internas à vida íntima da família patriarcal e o segundo as nossas raízes ibéricas que acentuam a cultura da personalidade, com sua correspondente falta de coesão e princípio de hierarquia na vida social. Oliveira Vianna, por sua vez, aponta para fatores de ordem política para explicar a concretização dos vínculos de subserviência na formação do clã rural, pois seu ponto de partida era que, do ponto de vista econômico, havia uma tendência à separação das classes rurais. Maria Sylvia de Carvalho Franco concentra-se, para situar a posição dos homens livres na ordem escravocrata, em seu caráter prescindível na ordem socioeconômica. Assim, sua dominação foi experimentada como uma graça, sem perceberem nunca o domínio em que se achavam circunscritos.
Retomando alguns autores clássicos da nossa historiografia social para situar aspectos do domínio territorial enquanto provedor da dádiva, Teresa Sales relembra inicialmente Oliveira Vianna, que foi um dos maiores ideólogos no Estado Novo e do pacto populista sob Getúlio Vargas. Para ele, a centralidade do latifúndio na nossa cultura reside, sobretudo, nas marcas de prestígio e poder do senhor rural manifestas no ser servido, obedecido, respeitado por muitos. O homem sem o latifúndio, pobre e fraco, só encontra segurança e tranquilidade sob a função tutelar do fazendeiro local. Assim, por um lado o senhor rural possui um incomensurável poder privado desde a colônia até o advento da República, controlando os aparelhos de justiça, os delegados de polícia e as corporações municipais, mas por outro lado ampara o homem comum diante destes controles por meio do clã rural que chefia.
O latifúndio escravocrata, monocultor e inibidor da divisão social do trabalho, vincula-se assim ao poder privado dos senhores de terra, lastreado sobre a escravidão. Todavia, o poder do senhor de terras se constrói não propriamente sobre os escravos que ele submete à sua vontade e arbítrio, mas sobre a infinidade de agregados, com relações de trabalho e denominações diversas segundo nossas peculiaridades regionais. Esses homens livres buscam a proteção do senhor de terras e chefe do clã contra o poder de outros senhores, na ausência de um poder superior que os discipline, em uma mediação política caracterizada como favor.
Estes agregados vivem uma cidadania que a autora denomina de cidadania concedida, marcada pelo amparo de um caudilho sobre a fraqueza, o desamparo e a pobreza em que se encontram. Essa cidadania concedida está na gênese da construção da nossa cidadania, ou seja, os primeiros direitos civis necessários à liberdade individual foram outorgados ao homem livre, durante e depois da ordem escravocrata, como concessão dos senhores de terra. Há uma radical dependência da população livre do Brasil escravocrata para com os senhores de terra.
Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda trabalharam com outros aspectos da relação de mando e subserviência, o primeiro buscando as tensões internas à vida íntima da família patriarcal e o segundo as nossas raízes ibéricas que acentuam a cultura da personalidade, com sua correspondente falta de coesão e princípio de hierarquia na vida social. Oliveira Vianna, por sua vez, aponta para fatores de ordem política para explicar a concretização dos vínculos de subserviência na formação do clã rural, pois seu ponto de partida era que, do ponto de vista econômico, havia uma tendência à separação das classes rurais. Maria Sylvia de Carvalho Franco concentra-se, para situar a posição dos homens livres na ordem escravocrata, em seu caráter prescindível na ordem socioeconômica. Assim, sua dominação foi experimentada como uma graça, sem perceberem nunca o domínio em que se achavam circunscritos.
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