O que é a alegria para as religiões afro-brasileiras?
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Resposta:Oxalá fôssemos sempre alegres! Quem haveria de querer se entristecer, mesmo num mundo marcado por tantas ambiguidades? Por vezes, a falta de alegria na vida cotidiana fez com que a esperança no além-vida se enchesse de mais sentido. Isso também levou a um conformismo, de que a felicidade só seria possível na eternidade, quando participaremos da vida em Deus. Alegria e felicidade são distintas, bem sabemos. Mas, sem dúvidas, temos mais condições de nos avaliarmos felizes, quando alegres, pois a alegria contribui, sobremaneira, para um estado de plenitude. As religiões, em sua palavra responsável a respeito do ser humano, ajudam-nos a perceber que a esperança de felicidade no além-vida, não exclui traços de felicidade e de alegria na vida presente.
É certo que na vida vamos nos alegrar e nos entristecer. Mas, felizmente, a experiência religiosa está mais ligada à experiência de alegria. Um dos traços da experiência religiosa é o fascinium, que nasce com o contato com o Sagrado. Esse fascinium gera uma série de bons sentimentos, entre os quais a alegria, que nos eleva e que nos dá a sensação de completude, de que a vida é e pode ser boa e cheia de sentido. Muitos ritos religiosos, nas distintas tradições, são verdadeiras festas, provocam alegria e inspiram felicidade. Aqui, vale lembrar a palavra entusiasmo, tão importante quando o assunto são ritos religiosos: literalmente, estar entusiasmado significa estar cheio dos deuses. Entusiasmo, nesse sentido, está fortemente ligado à alegria que a participação religiosa propicia, não apenas nos ritos, mas na condução da vida, inspirada pelos valores religiosos e humanos que as tradições religiosas ensinam e praticam.
Neste tema especial, dedicamo-nos a refletir sobre a alegria – e sua relação com a felicidade – a partir de distintas tradições religiosas: do cristianismo, das religiões afro-brasileiras e do hinduísmo.
César Thiago do Carmo Alves nos propõe a reflexão a respeito d’A alegria no cristianismo. No texto, o autor retoma a inspiração bíblica da alegria em todas as Escrituras Sagradas, mostrando como o ser humano é convidado à alegria, movido pelo encontro messiânico com o Cristo, considerado como a razão da alegria. Alegria, esta, da qual ninguém está excluído, pois é graça divina que atua salvificamente. Nesse sentido, a alegria cristã é um modo de viver no mundo, que não tapa os olhos para os problemas e sofrimentos, causados pela injustiça. Mas, ao contrário, que dá forças para a superação desses males.
Rondnelly Nunes de Assis reflete sobre Iwa pelé, o bom caráter, a partir das religiões afro-brasileiras. O autor destaca a dimensão comunitária da alegria, e sua relação com a felicidade. O papel da religião não é apenas o de mediar a relação com o Sagrado, mas também o de dar sentido à vida, que está intimamente ligada à comunidade. O bom caráter, chamado Iwa pelé, desdobra-se nas relações interpessoais, gerando um importante senso de comunidade.
Romero Carvalho nos propõe o artigo Alegria – um direito inalienável do ser, a partir do hinduísmo. O autor destaca um conceito que dá unidade à pluralidade de tradições, teologias e compreensões presentes no hinduísmo: o da verdadeira identidade, que é um ser espiritual que habita no corpo. A alma é constituída de eternidade, conhecimento e bem-aventurança. O encontro da alma, verdadeiro eu, com o seu supremo amor, Deus, é a forma mais elevada de alegria no processo de autorrealização, quando a pessoa vive seu direito inalienável de ser feliz.