O que acontecerá se os jacarés forem caçados indiscriminadamente? Explique
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Especialistas em sobrevivência, eles podem passar meses sem comer, gastando as energias que acumulam durante os períodos de fartura. Para isso, transformam em gordura a maior parte do que comem e possuem um estômago que é o meio mais ácido conhecido entre os vertebrados. Como animais de sangue frio, dependem fundamentalmente do sol para manter a temperatura do corpo; apesar disso, por incrível que pareça, podem sobreviver à neve e ao gelo, diminuindo o ritmo dos batimentos cardíacos e restringindo a circulação do sangue apenas ao coração e ao cérebro.
Vivem em bandos e obedecem a uma rígida escala hierárquica na qual o macho tem cada vez mais privilégios à medida que envelhece, inclusive para acasalar. Com uma vida média de 70 anos, tornam-se mais férteis e potentes sexualmente à medida que o tempo passa. Apesar do aspecto externo, seus órgãos internos têm muito mais a ver com os das aves que com os dos lagartos.
Por isso, não deve causar espanto a possibilidade anunciada agora: de que a caça cruel e em massa pode não ter reduzido o seu número no Pantanal Mato-grossense, estimado entre 6 e 10 milhões de jacarés, mais de 70 para cada quilômetro quadrado daquela região.
Documentadamente, através de fósseis, sabe-se que os crocodilianos surgiram há cerca de 245 milhões de anos, no chamado Triássico Superior, quando os dinossauros começavam a dominar a Terra. Desde então, do Protosuchia do Triássico, um pequeno predador terrestre de não mais que 1 metro de comprimento, ao Eusuchia, subordem à qual pertence a atual família Crocodylidae, eles mudaram muito pouco. As últimas modificações importantes aconteceram há 100 milhões de anos, para melhor adaptá-los à vida na água. As mudanças aconteceram basicamente nas fossas nasais internas, deslocadas diretamente para a garganta, e nas vértebras da cauda.
A primeira lhes permite manter a boca aberta com a garganta fechada por uma válvula, à espera de um peixe desprevenido, enquanto respiram com apenas a ponta do focinho fora da água. A segunda, tornou mais forte e ágil o rabo, usado em movimentos laterais para nadar e como apoio quando pulam para abocanhar os filhotes de uma ave desavisada, que fez seu ninho nos ramos mais baixos à beira da água.
Extremamente sociáveis, vivem em bandos sob uma rigorosa hierarquia, dominada pelo macho mais forte, que procura ampliar sempre sua área, demarcada com o odor das glândulas sexuais. O afortunado macho dominante torna-se cada vez mais potente e fértil à medida que envelhece. O melhor exemplo disso é o lendário Big Jane, um Alligator mississippensis, reprodutor mantido em cativeiro nos Estados Unidos que, aos 80 anos de idade, tinha um harém exclusivo de 25 fêmeas.
Mesmo sem o invejável vigor de Big Jane, contudo, um jovem macho consegue acasalar com um mínimo de seis fêmeas. Sem a presença de um macho dominante, a situação se inverte e uma fêmea pode acasalar com vários machos, garante Huberto Cezar de Moraes Machado, diretor da Coocrijapan Cooperativa dos Criadores de Jacaré do Pantanal.
Em terra, livre em seu habitat, um crocodiliano tem normalmente uma forma de caminhar lenta e majestosa, o corpo completamente afastado do chão, apoiado nas quatro patas, como os mamíferos quadrúpedes. Mas que pode se transformar em um rápido galope de até 17 km/h, nos animais menores, quando persegue uma presa. Uma agilidade insuspeitada para quem o vê boiando imóvel ou esquentando-se ao sol durante horas à beira dágua, um de seus lazeres preferidos.
E não por pura preguiça. Animais ectotérmicos, conhecidos popularmente como de sangue frio, os crocodilianos não possuem mecanismo interno de termorregulação para manter constante a temperatura do corpo. Assim, dependem fundamentalmente do sol e da água para conservar a temperatura corporal ao redor de 35°. E calor para eles é tudo. Aquecem-se ao sol durante o dia e, como a água esfria mais lentamente que a terra, submergem à noite.
Diferentemente dos outros répteis vivos, eles possuem um coração semelhante ao dos pássaros, com quatro cavidades, isoladas por uma divisão que separa o sangue arterial, oxigenado, do venoso. Mas os dois tipos de sangue acabam se misturando um pouco, quando as artérias que transportam o sangue do ventrículo esquerdo se comunicam com as do ventrículo direito. Mais fascinante, no entanto, é como o sistema circulatório auxilia na manutenção do calor no organismo.
De acordo com suas necessidades, um crocodiliano pode aumentar ou diminuir o ritmo dos batimentos cardíacos e dilatar ou contrair os vasos sangüíneos. Assim, quando toma sol ele pode acelerar o trabalho do coração e dilatar as artérias, para levar oxigênio e calor a todo o organismo. Quando mergulha na água fria ou nos meses de inverno, ao contrário, reduz o ritmo cardíaco e contrai os vasos da circulação periférica, mantendo o fornecimento de oxigênio apenas entre o coração e o cérebro.