o que a obra de Rosângela Rennó e Clara lanni tem em comum? O qua ambas as artistas buscam mostrar por meio de seus trabalhos?
Soluções para a tarefa
Nos dois primeiros meses de 2016 duas exposições chamaram a atenção do público frequentador do ciclo das artes em São Paulo. De um lado tínhamos a exposição Empresa Colonial, com curadoria de Tomás Toledo e que ocupou o espaço principal do Caixa Cultural (de 12/12/2015 a 28/02/2016). Do outro, no Butantã, pudemos ver na Galeria Leme a exposição Totemonumento, com curadoria de Isabella Rjeille (de 19/01/2016 a 05/03/2016). Em comum, nas duas curadorias, a busca de artistas, a maioria jovens, voltados para pensar criticamente a nossa história – e o nosso presente. Não por acaso, entre os seis artistas representados na Empresa Colonial e os oito, da Totemonumento, dois estavam presentes nas duas curadorias: Clara Ianni e Jaime Lauriano.
A cada nova exposição, as curadorias traçam novos mapas e perfis do “estado da arte”. Esses desenhos são movediços e se transformam a toda hora. Mas não como nuvens em um céu azul. Com mais vagar eles vão construindo e revelando nosso habitat artístico. Vão abrindo caminhos sobre um chão nem sempre tão estável. Para iniciar esta reflexão sobre essas duas curadorias, permito-me lançar mão de uma obra apresentada em outra exposição recente. Lembro aqui da impressionante obra de Lucas Simões, Recalque diferencial (2015), apresentada na exposição Jogo de Forças, com curadoria de Philipe Augusto, mostra que também serviu para encerrar as atividades do Paço das Artes no prédio da USP. Nessa obra de Lucas, pisamos sobre um solo que arrebenta sob o nosso peso – e ao mesmo tempo nos amortece. A proposta de Philipe (em uma curadoria que, sem surpresas agora, também tinha obras de Clara Ianni e de Jaime Lauriano) era a de juntar obras que servissem como dispositivos para refletirmos sobre nosso mundo e sua teia de poderes. Pois bem, essa obra de Lucas nos faz pensar no solo em que pisamos. Nosso andar torna-se errante, pois o pisar, com o qual raramente nos ocupamos, assim como não pensamos em nossa respiração, esse pisar toma toda a nossa atenção quando caminhamos tateantes a obra com os pés. Andamos como errantes. E é talvez essa imagem do “errar refletido” que pode nos servir par pensar quanto ao acerto dos curadores Tomás Toledo e Isabella Rjeille.