O que a cultura alimentar pode nos ajudar no dia a dia?
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Resposta:
Os ingredientes, o modo de preparar os alimentos e os pratos que compõem a mesa dos brasileiros são muito mais que simples hábitos. A alimentação é também uma abordagem para conhecer e entender a cultura e história de nosso povo.
Ao retomar a trajetória de um alimento, é possível pensar a história humana a partir de uma nova perspectiva, além de abordar questões sobre deslocamento, colonização e ocupação do território brasileiro.Os ingredientes, o modo de preparar os alimentos e os pratos que compõem a mesa dos brasileiros são muito mais que simples hábitos. A alimentação é também uma abordagem para conhecer e entender a cultura e história de nosso povo.
Ao retomar a trajetória de um alimento, é possível pensar a história humana a partir de uma nova perspectiva, além de abordar questões sobre deslocamento, colonização e ocupação do território brasileiro.
Explicação:João Luiz Maximo, doutor em História Social pela USP e professor de História da Gastronomia no Centro Universitário Senac, acrescenta:
“Basicamente todos os aspectos da comida são culturais. Desde a escolha dos ingredientes até a forma como sentamos à mesa”.Nesse sentido, um antigo caderno de receitas diz muito mais do que o passo a passo para a preparação de um prato. O material é também uma ponte para entender o contexto social e político de um tempo.
Maria Conceição Oliveira, pesquisadora da cozinha e cultura negra e integrante do projeto Comida de (I)migrante, conta que encontrou um livro da década de 1950 com uma receita de “Bala de Getúlio”. Depois de muita pesquisa, descobriu que o nome do doce era uma referência à morte do presidente Getúlio Vargas, ocorrida em 1954.
“É possível descobrir a forma como um povo vive analisando como ele se relaciona com os alimentos. É na comida que você tem a preservação da memória de um povo”, diz.
As receitas também são uma forma de transmissão de conhecimento e saberes entre gerações. Para Maria Conceição, o preparo de um prato típico da cultura negra também diz muito sobre a ancestralidade e a memória daquele povo.
De acordo com a pesquisadora, pratos considerados típicos hoje revelam fatos da ocupação da população negra no Brasil. “Quando as mulheres negras chegaram na Bahia, por exemplo, reconheceram ou trouxeram com elas o azeite de dendê e começaram a criar seus pratos. Estas comidas também têm proximidade com a portuguesa, já que a mulher negra, na cozinha, tinha a orientação da sinhá”, explica.
Maria Conceição destaca ainda como a presença africana em Minas Gerais marcou a culinária local. Pratos como ‘fufu’ e ‘pirão de fubá’ carregam a memória de países como Angola, Congo e Moçambique, onde são apreciados. Fazer receitas a partir da fermentação de mandioca e abacaxi também era uma tradição dos escravos.
“A grande questão da cozinha negra brasileira é que ela foi criada dentro do ambiente hostil da escravidão. É uma comida afro-brasileira, criada aqui, mas com memórias da África”, afirma.