o que a bncc retrata acerca dos anos iniciais do ensino fundamental
Soluções para a tarefa
Linguagem como forma de interação
A BNCC se assemelha aos PCNs quando assume a perspectiva enunciativa-discursiva de linguagem, reconhecendo que ela é uma atividade humana e faz parte de um processo de interação entre os sujeitos. A linguagem se materializa em práticas sociais, com objetivo e intenção. Por essa razão estabelece a centralidade no texto como unidade de trabalho e indica a necessidade de sempre considerar a função social dos textos utilizados. Durante a alfabetização, isso sinaliza para a importância de que os alunos trabalhem com textos reais – e não exclusivamente criados para o trabalho escolar como “Ivo viu a uva”.
O documento também aponta para uma continuidade do que é feito na Educação Infantil, deixando mais claro que há uma ponte entre os dois segmentos. É preciso compreender que ambos estão interligados e, nos anos iniciais do Fundamental, será possível intensificar e estruturar as experiências com a língua oral e escrita iniciadas na Educação Infantil.
Alfabetização explícita
A BNCC reconhece a especificidade da alfabetização e propõe a mescla de duas linhas de ensino: a primeira indica para a centralidade do texto e para o trabalho com as práticas sociais de leitura e escrita, a segunda soma a isso o planejamento de atividades que permitam aos alunos refletir sobre o sistema de escrita alfabética (estudar, por exemplo, as relações entre sons e letras e investigar com quantas e quais letras se escreve uma palavra, e onde elas devem estar posicionadas ou como se organizam as sílabas).
Ao assumir essa postura, o documento considera as contribuições da perspectiva construtivista, principalmente os estudos sobre os processos pelos quais as crianças passam para se apropriar da escrita. Mas também aponta ser preciso um trabalho com a consciência fonológica e com conhecimento das letras para ajudar a criança a evoluir em suas hipóteses de escrita.
Essa opção pela alfabetização explícita gerou muitas discussões e resistência entre os especialistas durante a elaboração da BNCC, mas prevaleceu o entendimento de que as crianças aprendem de diferentes maneiras e esta pode ser uma alternativa para a parcela que não tem sido alfabetizada apenas pelas propostas das diretrizes anteriores. Indicar a inclusão de atividades específicas sobre notação alfabética não significa desprezar a imersão no texto e sua função social nem estabelecer uma ordem de prioridade entre os dois trabalhos. Até porque não basta dominar o sistema de escrita para estar alfabetizado. É preciso também ser capaz de ler e escrever textos de diversos gêneros. Um processo que o próprio documento indica ter continuidade a partir do 3º ano, quando a ênfase é na ortografização.
Vale frisar que, ao contrário dos PCNs, que ofereciam ao professor orientações didáticas e elementos para a avaliação, a Base não trata dessas partes. O documento se concentra na proposição das competências e habilidades essenciais que todos os alunos devem desenvolver a cada ano e etapa da Educação Básica, ou seja, o foco está em “o que ensinar”. A construção do “como ensinar” virá nos currículos, cuja revisão está a cargo de redes, escolas e docentes.
“Quando os especialistas pararem de gritar uns com os outros, o problema da alfabetização estará resolvido”
Catherine Snow, professora de Harvard, defende a superação das polêmicas sobre as diferentes maneiras de se ensinar a escrever. Leia a entrevista completa