O quarto das bonecas
Ficava nos fundos e suas janelas davam para o pátio, o pátio e seus coqueiros, seus pés de caju, plantados num chão de areia que parecia açúcar cristal. Davam também para a varanda, como aliás todos os cômodos da casa, a varanda e seus arcos, seu chão de lajotas vermelhas, suas jardineiras de samambaias. Mas não quero falar do pátio, nem da varanda, e sim do quarto em si. É a ele que devemos voltar. Ficava nos fundos e servia, entre outras coisas, de quarto de costura. [...] Irônico que nós, meninos e meninas (ou pelo menos, eu), o chamássemos mentalmente de um nome tão associado ao mundo infantil: o quarto das bonecas.
[...] Eram quatro e eu sabia seus nomes, dados por minha avó: Aída, Nicinho, Celane e Regina. Por que esses nomes? Nunca soube. [...] Era um ritual quando vovó nos chamava para ver as bonecas. Ela as segurava e deixava que as tocássemos, mas apenas por um instante, e nunca – nunca – sem que fosse na presença dela.
Mas um dia, eu passava pela varanda quando vi a janela aberta. Eu estava crescendo e, pondo-me na ponta dos pés, podia espiar por cima do parapeito. Foi o que fiz. O quarto estava fechado e vazio. Meus olhos imediatamente se prenderam naqueles pares de olhos de cristal, sempre mirando o vazio. Nicinho e Aída tinham os olhos azuis. Celane e Regina, castanhos. Regina, embora fosse a menor, era a minha predileta. Seus olhos eram sombreados por imensos cílios, seus lábios entreabertos num sorriso em que se viam pequeninos dentes, cintilantes. [...] Com um impulso, pulei o parapeito e entrei no quarto.
Estava com Regina no colo quando ouvi o barulho do trinco, alguém entrando. No susto, fiz um movimento brusco e – pronto – Regina foi ao chão. De seu rosto de biscuit1, só restaram cacos.
Já não me lembro se me botaram de castigo. Sei que foi uma consternação. Minha avó, inconformada, levou Regina ao “médico das bonecas”, uma espécie de faz-tudo, e, muito tempo depois, reapareceu com ela. Aproveitaram o corpo de massa e aplicaram-lhe uma nova cabeça, a mais parecida que puderam encontrar. Mas não ficou igual. Regina nunca mais foi a mesma. Vovó olhava para ela de vez em quando e balançava a cabeça: “O outro rostinho era mais alegre, ela sorria mais.”.
E pela infância afora eu carreguei aquela culpa [...].
*Vocabulário:
1biscuit: massa de modelar utilizada em peças de artesanato.
SEIXAS, Heloísa. O quarto das bonecas. 2003. Disponível em: . Acesso em: 12 jan. 2021. Fragmento. (P101064I7_SUP)
O elemento da narrativa que está em evidência no primeiro parágrafo desse texto é
A-a apresentação do narrador.
B-a caracterização detalhada de um personagem.
C-a conversa entre os personagens.
D-a definição do tempo em que a história ocorre.
E-a descrição de um ambiente.
Soluções para a tarefa
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35
Resposta:
A descrição de um ambiente.
Explicação: No primeiro parágrafo é feita uma descrição detalhada sobre sobre a localização do quarto, as visões que ele oferecia e etc.
CesarAgusto:
Nesse texto, nos versos “Então faça por Mim/O que faria a você” (3ª estrofe), qual valor humano é apresentado?
Justiça.
Passividade.
Piedade.
Solidariedade.
a avó chama as crianças para ver as bonecas
a avó leva a boneca para o conserto.
a avó reaparece com a boneca.
a narradora ouve o barulho do trinco.
a narradora percebe que a janela está aberta.
obs: é o mesmo texto!!
Respondido por
12
Resposta:
resposta :E
Explicação:
pois no primeiro parágrafo retrata ao ambiente que acontece o acontecimento
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