o poema "profundamente" foi publicado pela primeira vez no livro libertinagem 1930 identifique o tema do poema e explique sua possível relação com o título?
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Resposta:
Poema “Profundamente”, de Manuel Bandeira
Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes, cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.
No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam, errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?
— Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente.
*
Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
— Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.
Explicação:
Profundamente de Manuel Bandeira, está incluso no livro “Estrela da Vida Inteira”,
mostra, além do saudosismo pela infância do eu-lírico de forma melancólica, ideais modernistas, pela quebra de paradigmas com a forma fixa e a métrica (versos livres) e a brincadeira com o campo semântico das palavras em contexto.
O poema se apresenta em dois tempos distintos:
O passado (quando tinha seis anos)
O presente (hoje); bem destacados pelos advérbios que aparecem no início da 1ª e da 5ª estrofes, respectivamente.
O início do texto mostra algumas lembranças do eu-lírico vividas na noite de São João, quando tinha seis anos e não pôde ver o final da festa, tinha adormecido. Então, ao acordar (possivelmente, no meio da madrugada), toda a alegria produzida pelas músicas, risadas e brincadeiras do cotidiano das pessoas daquela época tinha desaparecido, porque todos da casa estavam dormindo profundamente (no sentido literal - denotativo).
No entanto, a partir da 5ª estrofe, percebe-se a mudança de tempo e a mesma angústia vivida pelo eu-lírico de não ouvir mais as vozes daquele tempo e se questiona até perceber que eles não estavam mais lá, pois haviam morrido (“dormido profundamente” no sentindo conotativo).
É interessante a brincadeira que o poeta faz com as palavras em seu sentido denotativo e conotativo (“dormir profundamente”- 4ª e 7ª estrofes); percebe-se, portanto, que se trata de um bom entendedor das palavras que o cercam e que, através de um vocabulário simples, consegue atingir temas tão profundos como a morte e a saudade.
Além disso, ele utiliza-se de alguns recursos estilísticos, como o som e, para tal, a terceira estrofe pode ajudar, pois nos quatro primeiros versos, dá para notar a constante repetição do som “s” que provoca a ideia do queimar da pólvora produzida pelo balão (“[...] Estrondos de bombas luzes de Bengala / Vozes, cantigas e risos/ Ao pé das fogueiras acesas. / No meio da noite despertei / Não ouvi mais vozes nem risos / Apenas balões /Passavam, errantes /Silenciosamente [...]”), cuja zoada é cortada pelo advérbio de modo “Silenciosamente”, pois o som do fonema “s”, nesse caso, transmite a ideia do pedir silêncio (a onomatopeia do silêncio “siiii...”), uma vez que, tudo estava calmo, sem zoadas ou sons e quando acontecia algum ruído, era porque um ou outro bonde que passava “cortando o silêncio como um túnel” (comparação).
No poema “Profundamente”, Manuel Bandeira relaciona o ato de dormir com o sono profundo, ou seja, a morte dos seus avós.
Assim, o eu-lírico compara os momentos belos e recorda dos seus avós com carinho. Diz que eles "dormem profundamente", sendo um eufemismo para a morte.
O eu-lírico diz ter saudades do tempo em que era menino e da sua ingenuidade. Gostava de brincar e ter por perto a sua família. Contudo, hoje se dá conta de que o tempo passa e as situações devem ser aproveitadas o máximo possível, pois são finitas e efêmeras.
Sobre Manuel Bandeira:
Manuel Bandeira, autor modernista brasileiro, nasceu em 1886, em Recife, e morreu em 1968, aos 82 anos de idade, na cidade do Rio de Janeiro, vítima de tuberculose.
Ainda jovem, dedicou-se aos escritos e à poesia, escrevendo para os jornais locais. A primeira obra publicada por Bandeira foi no ano de 1917, sendo influenciado por movimentos literários, como: o Parnesianismo e o Simbolismo.
O poeta participou da Semana de Arte Moderna, em 1922, e apresentou seu famosíssimo poema "Os Sapos", onde criticava os métodos clássicos de se "fazer" poesia.
Além de docente, Manuel Bandeira foi nomeado membro da Academia Brasileira de Letras, tendo seu enfoque artístico direcionado à prosa, à crônica e a obras onde a memória era seu tema principal.
Três obras de Bandeira são: Estrela da Manhã (1936), Autoria das Cartas Chilenas (1940) e Libertinagem (1930).
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