O pai volta para a cama.
-- Que imaginação tem esse guri...
-- O que foi desta vez? Perguntou a mulher, sonolenta.
-- Ele queria ir ao banheiro fazer xixi, mas tinha medo do polvo.
-- Polvo?
-- Ele diz que tem um polvo embaixo da cama. Assim que ele bota o pé no chão, o polvo
pega a perna dele com um tentáculo. Até me descreveu como é o tentáculo. Frio,
pegajoso, gosmento...
-- Esse menino...
-- Fiz ele olhar debaixo da cama para ver que não tinha polvo nenhum. Mesmo assim,
quando voltou do banheiro, ele deu um pulo no meio do quarto para cima da cama.
Senão o polvo pegava o pé dele. Mas acho que esta noite ele não vai incomodar mais.
-- Você bateu nele? Olha o que disse a psicóloga...
-- Não bati. Só disse que se ele não ficasse quieto, o Bicho-Papão vinha pegar.
-- O quê?! Um menino com a imaginação dele e você ainda fala em Bicho-Papão! A
psicóloga disse claramente...
-- Pois eu fui criado ouvindo histórias do Bicho-Papão. Me ameaçavam com o homem do
saco se eu não comesse tudo, com o boi da cara preta, se eu não dormisse cedo... e aqui
estou eu, um homem normal, sem traumas. Aliás, no meu tempo nem existia a palavra
trauma.
Do quarto do guri vem uma voz chorosa.
-- Mãe...
-- Não responde que ele desiste.
-- Mãe-ê...
-- A psicóloga disse que era para atender sempre que ele chamasse.
-- Então vai você. Ele está chamando "mãe".
-- Vai você.
-- Desta cama eu não desço.
-- Está com medo do polvo?
-- Não seja boba. Eu...
O guri entra correndo no quarto. Está apavorado.
-- O BICHO-PAPÃO QUER ME PEGAR!
-- Volte já para a sua cama! -- diz a mãe. Mas o guri já mergulhou entre os dois. Só bota a
cabeça para fora das cobertas para descrever o monstro...
-- Ele é enorme. Cabeludo. Tem dois olhos grandes e um buraco no meio da cara. Arrasta
os pés no chão.
-- Viu o que você fez? -- diz a mulher para o marido.
Mas o marido não a ouve. Está com a atenção voltada para o corredor e os seus olhos se
arregalam. A mulher também para de falar quando escuta o que o marido está
escutando. O ruído de pés se arrastando no chão. Pés cabeludos.
-- Fecha a porta depressa! Grita a mulher.
O Bicho-Papão aparece na porta. Tem o tamanho de um gorila. Os olhos grandes e
injetados. Em vez de boca, um buraco no meio da cara com duas fileiras de dentes
afiados em cima e duas embaixo. Aproxima-se lentamente da cama, arrastando os pés. A
mãe desmaia. O pai ergue-se da cama e achata-se contra a parede. Não consegue gritar.
O Bicho-Papão arranca a criança de baixo das cobertas e a engole, com pijama e tudo.
Depois sai, pesadamente pela porta.
Meia hora depois a mãe recobra os sentidos. O marido está sentado na beira da cama,
mas os pés estão recolhidos sob o corpo. Sacode a cabeça e não para de repetir: "Eu
avisei... Eu avisei..."
A mãe só tem uma preocupação:
-- O que é que eu vou dizer para a psicóloga?
(Luís Fernando Veríssimo)
01. Justifique o título dado ao texto acima.
02. Identifique os elementos da narrativa presentes no texto:
a) Personagens
b) Lugar
c) Tempo
d) Enredo
e) Narrador
03. Há dois momentos de tensão no texto: o primeiro, em que o monstro é um polvo; o
segundo, em que ele é um bicho-papão.
04. Que adjetivos são usados para descrever:
a) Os tentáculos do polvo que ele vê embaixo da cama?
b) O Bicho-Papão para os pais?
05. Pensando nas características da crônica, identifique se o texto lido tem os seguintes
elementos, explicando cada um.
a) Humor
b) Qual é a questão do cotidiano retratada.
(me ajudem pfvr)
Soluções para a tarefa
Respondido por
0
Resposta:
Quer ser minha amiga
Explicação:
Quer ser minha amiga vi que tu e army
army6124:
pode ser :)
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