O NOVIÇO (trecho da obra)
Martins Pena
CENA I
AMBRÓSIO, só, de calça preta e chambre — No mundo a fortuna é para quem
sabe adquiri-la. Pintam-na cega... Que simplicidade! Cego é aquele que não tem
inteligência para vê-la e a alcançar. Todo o homem pode ser rico, se atinar com o
verdadeiro caminho da fortuna. Vontade forte, perseverança e pertinácia são poderosos
auxiliares. Qual o homem que, resolvido a empregar todos os meios, não consegue
enriquecer-se? Em mim se vê o exemplo. Há oito anos, era eu pobre e miserável, e hoje
sou rico, e mais ainda serei. O como não importa; no bom resultado está o mérito...
Mas um dia pode tudo mudar. Oh, que temo eu? Se em algum tempo tiver de responder
pelos meus atos, o ouro justificar-me-á e serei limpo de culpa. As leis criminais fizeramse para os pobres...
CENA II
Entra Florência, vestida de preto, como quem vai à festa.
FLORÊNCIA, entrando — Ainda despido, Sr. Ambrósio?
AMBRÓSIO — É cedo. (Vendo o relógio:) São nove horas, e o ofício de Ramos
principia às dez e meia.
FLORÊNCIA — É preciso ir mais cedo para tomarmos lugar.
AMBRÓSIO — Para tudo há tempo. Ora dize-me, minha bela Florência...
FLORÊNCIA — O que, meu Ambrosinho?
AMBRÓSIO — O que pensa tua filha do nosso projeto?
FLORÊNCIA — O que pensa não sei eu, nem disso se me dá; quero eu — e
basta. E é seu dever obedecer.
AMBRÓSIO — Assim é; estimo que tenhas caráter enérgico.
FLORÊNCIA — Energia tenho eu.
AMBRÓSIO — E atrativos, feiticeira...
FLORÊNCIA — Ai, amorzinho! (À parte:) Que marido!
AMBRÓSIO — Escuta-me, Florência, e dá-me atenção. Crê que ponho todo o
meu pensamento em fazer-te feliz...
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FLORÊNCIA — Toda eu sou atenção.
AMBRÓSIO — Dois filhos te ficaram do teu primeiro matrimônio. Teu
marido foi um digno homem e de muito juízo; deixou-te herdeira de
avultado cabedal. Grande mérito é esse...
FLORÊNCIA — Pobre homem!
AMBRÓSIO — Quando eu te vi pela primeira vez, não sabia que eras viúva rica.
(À parte:) Se o sabia! (Alto:) Amei-te por simpatia.
FLORÊNCIA — Sei disso, vidinha.
AMBRÓSIO — E não foi o interesse que obrigou-me a casar contigo.
FLORÊNCIA — Foi o amor que nos uniu.
AMBRÓSIO — Foi, foi, mas agora que me acho casado contigo, é de meu dever
zelar essa fortuna que sempre desprezei.
FLORÊNCIA - (À parte) — Que marido!
AMBRÓSIO - (À parte) — Que tola! (Alto:) Até o presente tens gozado dessa
fortuna em plena liberdade e a teu bel-prazer; mas daqui em diante, talvez assim
não seja.
FLORÊNCIA — E por quê?
AMBRÓSIO — Tua filha está moça e em estado de casar-se. Casar-se-á, e terás
um genro que exigirá a legítima de sua mulher, e desse dia principiarão as
amofinações para ti, e intermináveis demandas. Bem sabes que ainda não fizestes
inventário.
FLORÊNCIA — Não tenho tido tempo, e custa-me tanto aturar procuradores!
AMBRÓSIO — Teu filho também vai a crescer todos os dias e será preciso por
fim dar-lhe a sua legítima... Novas demandas.
FLORÊNCIA — Não, não quero demandas.
AMBRÓSIO — É o que eu também digo; mas como preveni-las?
FLORÊNCIA — Faze o que entenderes, meu amorzinho.
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AMBRÓSIO — Eu já te disse há mais de três meses o que era preciso fazermos
para atalhar esse mal. Amas a tua filha, o que é muito natural, mas amas ainda
mais a ti mesma...
FLORÊNCIA — O que também é muito natural...
AMBRÓSIO — Que dúvida! E eu julgo que podes conciliar esses dois pontos,
fazendo Emília professar em um convento. Sim, que seja freira. Não terás nesse
caso de dar legítima alguma, apenas um insignificante dote — e farás ação
meritória.
FLORÊNCIA — Coitadinha! Sempre tenho pena dela; o convento é tão triste!
AMBRÓSIO — É essa compaixão mal-entendida! O que é este mundo? Um
pélago de enganos e traições, um escolho em que naufragam a felicidade e as
doces ilusões da vida. E o que é o convento? Porto de salvação e ventura, asilo
da virtude, único abrigo da inocência e verdadeira felicidade... E deve uma mãe
carinhosa hesitar na escolha entre o mundo e o convento?
FLORÊNCIA — Não, por certo...
AMBRÓSIO — A mocidade é inexperiente, não sabe o que lhe convém. Tua
filha lamentar-se-á, chorará desesperada, não importa; obriga-a e dai tempo ao
tempo. Depois que estiver no convento e acalmar-se esse primeiro fogo,
abençoará o teu nome e, junto ao altar, no êxtase de sua tranquilidade e
verdadeira felicidade, rogará a Deus por ti. (À parte:) E a legítima ficará em
casa...
FLORÊNCIA — Tens razão, meu Ambrosinho, ela será freira.
AMBRÓSIO — A respeito de teu filho direi o mesmo. Tem ele nove anos e será
prudente criarmo-lo desde já para frade.
FLORÊNCIA — Já ontem comprei-lhe o hábito com que andará vestido daqui
em diante.
AMBRÓSIO — Assim não estranhará quando chegar à idade de entrar no
convento; será frade feliz.
(À parte:) E a legítima também ficará em casa...
FLORĘNCIA — Que sacrifícios não farei eu para ventura de meus filhos! [...]
Atividade
1. Elabore 5 questões interpretativas sobre o texto e responda.
Soluções para a tarefa
Respondido por
3
Resposta:
1_qual é o nome dos personagens principais ?
R:Florência,Ambrósio.
2_ sobre o que fala o texto ?
R: conta sobre um casal que começam discutir sobre seus filhos e futuro dos filhos.
3_ copie a frase do texto a Florência fala sobre o sacrifício pra seus filhos:
R:Que sacrifícios não farei eu para ventura de meus filhos!
4_o que o Ambrósio falou sobre sobre "o que é esse mundo "?
R:Um
pélago de enganos e traições, um escolho em que naufragam a felicidade e as
doces ilusões da vida.
5_ O que você achou da história?
R: uma história bem legal e descontraída.
Explicação:
espero ter ajudado:)
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