O neologismo desinvenção pretende nomear a progressiva perda de especificidade do processo de alfabetização que parece vir ocorrendo na escola brasileira ao longo das duas últimas décadas. Certamente essa perda de especificidade da alfabetização é fator explicativo – evidentemente, não o único, mas talvez um dos mais relevantes – do atual fracasso na aprendizagem e, portanto, também no ensino da língua escrita nas escolas brasileiras, fracasso hoje tão reiterado e amplamente denunciado. É verdade que não se denuncia um fato novo: fracasso em alfabetização nas escolas brasileiras vem ocorrendo insistentemente há muitas décadas; hoje, porém, esse fracasso configura-se de forma inusitada. Anteriormente ele se revelava em avaliações internas à escola, sempre concentrado na etapa inicial do ensino fundamental, traduzindo-se em altos índices de reprovação, repetência, evasão; hoje, o fracasso revela-se em avaliações externas à escola – avaliações estaduais (como o SARESP, o SIMAVE), nacionais (como o SAEB, o ENEM) e até internacionais (como o PISA) –, espraia-se ao longo de todo o ensino fundamental, chegando mesmo ao ensino médio, e se traduz em altos índices de precário ou nulo desempenho em provas de leitura, denunciando grandes contingentes de alunos não alfabetizados ou semialfabetizados depois de quatro, seis, oito anos de escolarização.
SOARES, M. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Revista Brasileira de Educação, n. 25, p. 5–17, abr. 2004.
Com base no texto acima, avalie as afirmações a seguir:
I. O fracasso escolar no processo de alfabetização passou a ser evidenciado com a divulgação dos índices, a partir dos resultados das avaliações externas, ou seja, o que antes se revelava apenas no contexto interno das escolas, passa a ser denunciado no contexto macro da sociedade.
II. O fracasso na alfabetização é resultado das avaliações externas.
III. A aprendizagem inicial da língua escrita no Brasil precisa retornar ao processo tradicional de ensino, com o uso dos métodos sintéticos de alfabetização, para recuperar sua especificidade.
IV. Houve uma perda de especificidade do processo de alfabetização nas duas últimas décadas, o que pode explicar o fracasso vivenciado atualmente no ensino da língua escrita e no processo de aprendizagem como um todo.
Soluções para a tarefa
Resposta:
I, II E IV
Explicação:
Resposta:
I e IV
Explicação:
É correto o que se afirma nas frases I e IV. Como pode ser observado no fragmento de texto apresentado na questão, o fracasso escolar no processo de alfabetização passou a ser evidenciado com a divulgação dos índices, a partir dos resultados das avaliações externas, ou seja, o que antes se revelava apenas no contexto interno das escolas, passa a ser denunciado no contexto macro da sociedade (I). Com a divulgação dos índices e a realização das avaliações externas, houve um conhecimento da sociedade, em geral, sobre o fracasso que já acontecia no contexto escolar, porém, que estava apenas evidente para a “escola”, com os índices de reprovação e evasão. Para a autora, houve uma perda de especificidade do processo de alfabetização nas duas últimas décadas, o que pode explicar o fracasso vivenciado atualmente no ensino da língua escrita e no processo de aprendizagem como um todo (IV). Todavia, não há menção no texto, ao retorno às práticas tradicionais de ensino, como sugere a afirmativa III, o que seria um equívoco, pois, como pode ser observado no livro da disciplina (Capítulos 1, 2 e 7), os métodos sintéticos possuem limitações evidentes e, portanto, não é esse o caminho para a superação do fracasso vivenciado até aqui. Desse modo a afirmativa III está incorreta. As avaliações externas apenas expõem o problema, elas não são responsáveis por ele, como aponta a afirmativa II, por isso ela está incorreta.