O naufrágio
Quando tudo ficou pronto para a longa viagem, embarquei no naviozinho. Fazia justamente oito anos que
tinha deixado a casa de meus pais. Qualquer coisa me dizia que não fizesse tal viagem, mas eu me havia
comprometido e não podia voltar atrás.
O vento estava de feição, como dizem os marinheiros. As velas se enfunaram e o navio lá se foi.
Por muitos dias só tivemos bom tempo. O navio navegava firme, tudo parecendo indicar que a viagem seria
das mais felizes. Mas não foi assim.
Uma violenta tempestade veio de sudoeste, e eu, que em oito anos de vida marítima tinha visto muitas, nunca
vi tempestade mais furiosa. Nada pudemos fazer senão deixar o navio flutuar ao sabor dos ventos. Dias e
dias fomos assim arrastados pelo mar afora, esperando a todo momento um fim terrível.
A tempestade crescia violentamente. Nenhum de nós conservava esperança de salvar-se. Mas no décimo
segundo dia o vento amainou e as vagas perderam a fúria. Nossas esperanças renasceram.
No décimo terceiro dia, pela manhã, um marinheiro gritou: “Terra!”
Corri ao convés para ver, mas justamente nesse instante o navio bateu num banco de areia e ficou imóvel.
Estava encalhado. Grandes ondas vinham quebrar-se ao convés, e toda a tripulação teria sido varrida para o
mar se não houvesse escondido nas cabinas. “Que havemos de fazer?” gritou um marinheiro.
- Nada – respondeu o capitão. – Nossa viagem está no fim. Só nos resta esperar que as ondas despedacem
o navio e nos engulam a todos.
- Há ainda uma esperança – gritou o imediato. – Sigam-me!
Corremos todos para o convés atrás dele e pudemos ver que um dos escaleres ainda estava no seu lugar.
Num relance cortamos as cordas que o prendiam aos ganchos e o pusemos n’água, com todos os homens
dentro.
Nenhum bote poderia flutuar por muito tempo num mar agitado como aquele, mas nós estávamos vendo terra
perto e tínhamos esperança de chegar até lá. Era a única salvação possível.
Vagalhões furiosos nos foram levando em direção dumas pedras que pareciam ainda mais terríveis que as
ondas. De repente uma vaga maior cobriu o bote. Ninguém teve tempo de gritar ou pensar. Fomos todos
engolidos pelas águas.
Sou lançado à praia
Só me lembro, depois disso, de que quando abri os olhos me achava numa praia, com ondas rolando sobre
mim. Alguma vaga mais bondosa que as outras me carregara para ali.
Levantei-me a custo e, com água pelo pescoço, procurei encaminhar-me para terra. Nisto um vagalhão me
cobriu. Fechei a boca o mais que pude e procurei nadar. O vagalhão perdeu a força, voltou para trás e me
permitiu firmar o pé na areia outra vez.
Que felicidade sentir terra firme sob os pés! Lutei para não perder o equilíbrio e me esforcei com ânsia para
me aproximar da terra. Outra vaga enorme veio, que por um triz não me arrastou para o oceano.
Nadei desesperadamente, e afinal consegui agarrar-me a um rochedo. Não estive ali nem um minuto. Outra
vaga veio, que me arrebatou, mas desta vez para lançar-me à praia. Estava salvo da fúria do oceano!
Exausto da terrível luta contra os elementos revoltos, caí sobre uma touceira de grama, na orla da praia. Meus
olhos se ergueram para o céu em agradecimento a Deus.
Depois de descansar um bocado, levantei-me e olhei em redor. Longe, encalhado no banco de areia, estava
o navio, sempre batido pelas vagas. Fiquei admirado de me ver tão longe dele.
- Como foi possível que eu nadasse tanto? – disse comigo.
Em seguida pensei nos companheiros. Onde estariam eles? Caminhei ao longo da praia e não vi ninguém;
apenas vestígios de gente – aqui um chapéu, ali dois sapatos desaparelhados.
Todos haviam morrido, afogados pelas ondas.
(Daniel Defoe. Robinson Crusoé. Tradução de Monteiro Lobato. S.P: Brasiliense, 1985. P.9-12)
1). Qual o tipo de narrador do texto? É apenas um observador dos acontecimentos ou é também
personagem?___________________________________________________________________________
Soluções para a tarefa
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Resposta:
Narrador personagem. O narrador é personagem e não somente observador.
Espero ter ajudado!
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