O milagre econômico na ditadura foi uma farsa?
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milagre econômico da década de 1970 foi garantido pelo investimento estrangeiro feito no Brasil por empresas multinacionais e também através do acesso às linhas de crédito disponibilizadas por instituições financeiras estrangeiras. Idealizado pelo economista e Ministro da Fazenda Antônio Delfim Neto, o milagre econômico incentivou três ramos produtivos.
As empresas privadas brasileiras se dedicavam aos ramos chamados trabalho-intensivos, com maquinário de baixa complexidade tecnológica, baixos salários e extensa utilização de força de trabalho em indústrias têxteis, processamentos de alimentos e produtoras de bens de consumo não duráveis.
As empresas multinacionais se dedicavam principalmente ao ramo capital-intensivo, de alta complexidade tecnológica do maquinário e com número menor de força de trabalho. Os trabalhadores deste setor eram mais produtivos, devido a uma qualificação maior que era necessária para operar com os equipamentos de produção, o que garantia também um salário maior. As multinacionais se dedicavam à produção de automóveis, eletrodomésticos e meios de produção, destinados tanto a outras empresas quanto aos consumidores, abastecendo neste último caso o mercado de consumo de bens duráveis.
Já as empresas estatais ficaram responsáveis pelos investimentos nas indústrias de base, setor que se convencionou chamar à época de “indústrias necessárias à manutenção da segurança nacional”, abarcando as empresas de produção de energia elétrica, indústria pesada, telecomunicações e indústria bélica. Além disso, era responsabilidade do Estado investir na criação das condições gerais de produção, necessárias à industrialização, como redes de transporte e sistema de educação. Foi nesta época que foram construídas a hidrelétrica de Itaipu, a ponte Rio-Niterói e a Transamazônica, símbolos da grandiosidade nacional.
Esse projeto do governo militar não se diferenciava tanto da política econômica de JK, na década de 1950. O que mudava era a estabilidade política conseguida pela repressão à oposição de esquerda, necessária para garantir a segurança ao investimento estrangeiro. O resultado foi a ampliação do mercado interno brasileiro, com o aumento do consumo da população e o acesso a espaços do mercado externo, já que a transferência de linhas de montagem para o Brasil, como a produção de automóveis exportáveis, era beneficiada com a proximidade de matérias-primas e o baixo custo da força de trabalho.
O baixo custo da força de trabalho era garantido justamente com a violenta repressão a qualquer reivindicação por melhorias salariais. Mas a baixa taxa salarial era para os trabalhadores mais humildes, sendo que os assalariados de postos mais altos nas empresas e administração pública conseguiam ampliar seu consumo, chegando nas grandes cidades a constituírem um novo modo de vida, com mais de um carro por família e com uma segunda casa, de veraneio. Seus filhos frequentavam escolas particulares e universidades públicas, qualificando-se e garantindo a perpetuação da ascensão social.
Entretanto, a expansão e internacionalização da economia brasileira geraram um aumento drástico da dívida externa e dependência do capital estrangeiro, minimizado por taxas baixas de juros no mercado internacional e pelo crescimento econômico. Por outro lado, o arrocho salarial imposto aos trabalhadores levou ao aumento da desigualdade na distribuição de renda, criando as condições para o surgimento dos conflitos sociais do final da ditadura, como as greves no ABC, em São Paulo, no final da década de 1970